Capítulo 4

- Ben Smith? – Phil me perguntou, meio transtornado com a minha pergunta.
- Sim, eu acho que ele é quem mais sofre com você. Não acho isso certo.
- Por acaso você está a fim daquele cara?
- O quê?
- Me desculpe Bee. Eu fiquei irritado pela forma como você defendeu aquele garoto.
- Não deveria. Phil, eu só estou tentando te fazer melhorar, não quero brigar com você. Não está certo fazer isso com as pessoas. Se continuar assim...
- Não – ele me interrompeu – não precisa terminar tudo. Vou mudar.

E foi assim que terminamos a conversa: com um acordo. Phil estava disposto a melhorar, eu devia dar uma chance a ele. E ele era tão atencioso comigo, tão gentil. Ainda me perguntava por que. Eu não tinha nada de especial.

Algum tempo se passou depois disso. Não sei exatamente quando, mas Ben começou a faltar aulas. Mesmo que não nos falássemos, os dias que ele não ia à escola pareciam mais vazios. Estranho pensar isso. Resolvi perguntar ao amigo dele, Kevin, por que ele já tinha quase uma semana sem aparecer.

- E aí Kevin? Como vão as coisas? – perguntei ao garoto sentado sozinho no refeitório. Ele pareceu se assustar com a minha presença.
- Oi Beatrice! É... Estão bem, ou deveriam estar. – ele respondeu abatido
- Qual o problema? Você está aqui sempre sozinho. Cadê o seu amigo?
- O Ben?
- Sim, onde está Ben Smith que nunca mais apareceu na escola? – Notei Phil olhando pra mim numa mesa do outro lado do refeitório. – Mudou de cidade?
- Não, ele está viajando esses tempos, com uns amigos que conheceu.
- Não são seus amigos?
- Vamos dizer que eles não fazem muito o meu tipo.
- Me desculpe se estou sendo intrometida Kevin, mas vi você aqui no canto, resolvi perguntar.
- Sem problemas.
- Por que não fazem seu tipo?
- O Ben faz natação e conheceu esses caras numa competição que participou recentemente. Eles podem até ser legais, mas não são como eu e Ben, sabe, eles parecem que não gostam muito de estudar.
- Ah, entendo. Talvez eu possa ajudar. Você não tem o telefone do Ben? Posso ligar pra ele. – Não sei por que pedi isso, mas pensei que poderia mesmo ajudá-lo.
- É uma boa idéia.

Kevin me deu o número de telefone do Ben e eu fiquei completamente sem coragem de ligar. Cheguei em casa com aquela coceira nos dedos, mas ao mesmo tempo medo de tomar um fora do Ben. Não entendia aquilo. Eu tinha meu namorado, não tinha? Além disso, eu nem falava com o Ben direito, o que eu queria ligando pra ele? Eu ia dizer o quê? “Oi Ben, aqui é a Beatrice. Por que você está faltando aulas?” e ele “Ei garota, nem falo com você, qual é a sua? Isso não tem a ver com você”. Ou então “Olá Ben Smith, aqui é Beatrice Parker. Você abandonou seu melhor amigo. Sabia que isso não se faz?” e ele “Qual é garota? Isso não tem a ver com você!”. Nunca teria a ver comigo.

Minha mãe percebeu a minha frustração. Veio perguntar se eu tive algum problema na escola, alguma coisa parecida. Acho que ela pensa que eu vivo pra a escola. Só tem essa explicação. Mas isso tinha a ver com a escola, não tinha? Kevin tinha me dito que não ligasse para o Ben durante a tarde, era bem provável que ele não me atendesse. Mas eu não fiz o que ele disse e liguei. Não custava nada tentar.

Disquei o número e fiquei esperando a voz do outro lado da linha atender ao telefone. A primeira vez chamou até cair. Na segunda tentativa uma voz feminina respondeu.

- Alô? – Ela disse e eu fiquei muda.

Eu tinha ligado errado? Era mesmo aquele número?

- Alô? – A bonita voz repetiu do outro lado – Tem alguém aí?
- Er... Oi – Eu gaguejei. Assumo que fiquei meio acanhada com aquela voz. Não parecia ser a mãe dele. Talvez eu tivesse mesmo ligado pra o número errado. – Por favor, poderia falar com Ben Smith?
- Ele não está aqui agora. Quem quer falar?
- Diz a ele que foi uma amiga. Bem, não necessariamente uma amiga... Diga que foi Beatrice. Por favor, peça a ele pra me retornar assim que puder.
- Ok
- Obrigada.
- Por nada. Mais alguma coisa?
- Não, não. Tchau.
- Tchau. – Ela disse e eu desliguei o telefone.

Quem era aquela que atendeu ao telefone? Não, não era isso que eu deveria me perguntar. Eu estava com o Phil, não devia me preocupar com quem Ben estava ou deixava de estar. Aliás, desde quando eu era próxima desse Ben?

Um pouco mais tarde eu não consegui me segurar de ansiedade e liguei novamente. Por que eu estava tão ansiosa? Liguei várias vezes e ninguém atendia. Continuei ligando.


- Alô? – Era ele. Eu fiquei em silêncio. – Tem alguém aí?
- Oi.
- Quem está falando? – Ele parecia surpreso.
- Oi Ben. Aqui é... É Beatrice Parker.
- Quem? Beatrice Parker?
- Sim Ben, sou eu.
- Quem te deu meu número?
- Ah, er... Foi o Kevin.
- Sim. Algum problema Beatrice?
- Não, não. Só queria saber... Só queria saber por que não tem ido pra a escola.
- Estou com outros planos. Por acaso seu namorado sabe que você está me ligando?
- Eu não estou te ligando por causa de você – Mas que metido! – É... Por causa do Kevin.
- Não disse que você tinha ligado por mim, mas que se seu namorado descobrir que você está me ligando eu posso ser encontrado morto na balsa do lixo. – Até parecia que o Phil era esse monstro mesmo.
- Não Ben. Você abandonou o Kevin. Ele está sempre sozinho no refeitório, sabe, está dando pena. Quando você volta? – Ops, pergunta errada.
- Não sei, estou vendo por aqui. Não estou sentindo muita falta daí, e o Kevin pode vir me visitar. Mas, como estamos terminando o ano, e é o último, vou voltar em breve.
- Ótimo. Quer dizer, ok. Até mais ver.
- Até.

Ben Smith. Ele estava tão frio. Ou será que eu queria que ele fosse mais próximo? Sei lá, sempre me olhando. É talvez fosse mesmo uma mania dele, encarar as pessoas. Não deveria me importar com isso. Me preparei para dormir e uma coisa me surpreendeu: fechei os olhos e fiquei enxergando o rosto de Ben Smith.

Comentários

  1. Estou gostando da forma como vc escreve.
    Ora um, ora outro, conta a história do seu ponto de vista. Muito criativo!

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  2. pooooo....
    q massaaaaaaaaaaaa!!!
    to ancioso pelo próximo cap.!!!

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