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Mostrando postagens com o rótulo O livro de Bárbara

O LIVRO de Bárbara #14

O domingo inteiro passou e parecia que o último vestígio da existência de Bárbara era o diário. A polícia não descobriu nada além do garoto no posto de gasolina. Fui obrigado a voltar pra casa e explicar aos meus pais o que realmente estava acontecendo. -Sequestrada? Como assim, "sequestrada"? Quando? - Minha mãe, abismada , me enchia de perguntas e aumentava cada vez mais o tom da voz. - Felipe , você podia ter avisado antes! A gente podia ter ajudado o pai dela, é um momento de tensão tão grande! - Reclamou meu pai - Aliás, Camila , por favor, seja mais discreta pra Sofia não se meter onde também não deve. -Acho que vocês ajudariam muito pouco. Tem policiais na casa, familiares, um monte de gente esperando outra ligação dos sequestradores. Todo mundo fica preocupado, mas acho que ficar lá não ajuda. - Você está certo, Felipe . Nessas horas a gente precisa ser racional, ou vamos atrapalhar todo mundo. - Meu pai concordou. - Acho que não vou conseguir dormir. Bem, de qu...

O LIVRO de Bárbara #13

- Posso conversar com o senhor pessoalmente? – Perguntei ao pai de Bárbara, percebendo que ele ficava cada vez mais nervoso com a situação. Embrulhei o diário, tomei um banho às pressas e malmente dei bom dia aos meus pais. - E onde você está indo com essa pressa toda Felipe? – Meu pai perguntou. - À casa de Bárbara. - Nove da manhã de domingo? O que você perdeu lá que não pode nem tomar café? – Minha mãe questionou. - Preciso falar com o pai dela. - Então Mauro, parece que enfim nosso menino está procurando algum compromisso, não é Felipe? – Ela disse, sorrindo. - Humm, levando até presente, hein? – Meu pai falou. Eu simplesmente ignorei o fato de meus pais estarem pensando que eu ia pedir Bárbara em namoro. Não que isso fosse uma coisa que eu não queria fazer – até preferia que a opção fosse essa. Mas era melhor deixá-los pensar nessa hipótese do que explicar que eu estava envolvido até o pescoço com a história do sequestro de Bárbara. E que eu não estava levando um presente, mas o t...

O LIVRO de Bárbara #12

Era um lugar escuro e inóspito, cheio de árvores. Chovia, e o caminho de lama fazia meus pés grudarem. Uma casa escondida entre as árvores tinha uma luz forte, que atravessava a escuridão da noite. Eu sabia que precisava entrar lá, para salvá-la. Meu tempo era curto. Eu não tinha armas, somente o diário na mão. Ainda não tinha conseguido entender tudo, mas já tinha uma breve noção de onde era o cativeiro. Ouvia seus gritos ecoarem enquanto eu chegava mais perto. Tentei correr, ainda que minhas botas me prendessem ao chão. O tempo era muito curto. Meu relógio apontava para 23:45. Sua execução estava marcada para meia-noite. O quarto onde ela estava presa ficava na parte mais alta da casa. Perdi tempo demais tentando entrar, então precisava encontrar logo o quarto certo. Um corredor imenso se estendia na minha frente, com cerca de dez portas. As luzes estavam acesas em algumas delas, onde eu invadi primeiro. Só faltavam duas portas. Um guarda passou no corredor, fazendo com que eu pe...

O LIVRO de Bárbara #11

Terça-feira, 8 de dezembro de 2009 Essa é a última semana de aula. Faltam exatamente três dias para o fim de tudo. Está um clima estranho na turma, como se não fosse acabar por agora. Na sexta-feira estão pretendendo fazer um amigo secreto. Meu pai me incentivou a participar, e eu tirei o nome de uma colega que eu nem falo direito: Júlia. Bem, eu não falo direito com quase ninguém naquela sala. Passei a manhã toda pensando em alguma coisa útil pra dar de presente a ela. Já vi que ela gosta muito de Harry Potter, mas ela deve ter todos os livros. Seria muito ridículo dar uma fantasia a ela. Sei lá, acho que vou comprar uma agenda. Preferia ter tirado Felipe, óbvio. Mesmo que não saiba demais sobre suas preferências, sei que ele gosta de música, principalmente rock internacional. Talvez um cd do The Killers não fizesse mal. Mas ele não é meu amigo secreto, nem adianta ficar pensando muito nisso. E cd todo mundo baixa agora, é um gasto desnecessário. Mesmo assim, vou amadurecer a ideia. Q...

O LIVRO de Bárbara #10

Comecei a imaginar mil maneiras de falar com essa tal Carolina, prima de Bárbara. Passavam de duas da manhã, me deu fome. Eu tinha que descer as escadas na ponta dos pés pra que ninguém me ouvisse. Se minha mãe sonhasse que eu estava acordado até essa hora de um sábado pra ler o diário de... uma amiga, digamos assim, e que isso envolvia um possível sequestro no qual eu estava me metendo e tentando resolver sozinho... Ela iria me trancar no quarto. Para sempre. Não, ela iria me internar e queimar o diário. Quelquer coisa que me deixasse longe do que ela logicamente consideraria uma falta de senso. Sem imaginar que eu estou tentando salvar a garota que eu amo. Como eu faria isso? Não tinha a mínima ideia. Uma coisa era certa: só poderia procurar a polícia se tivesse provas concretas. Um diário talvez não fosse a prova mais concreta pra eles. Ainda mais com coisas envolvendo o governo. Um detetive particular? Eu não tinha mais do que dez reais na caixa dentro da minha gaveta. Perguntar a...

O LIVRO de Bárbara #09

Já passava de onze da noite, quando enfim eu encontrei alguma coisa produtiva no diário. Eu já tinha muito tempo lendo, sem encontrar nada que servisse pra descobrir onde Bárbara poderia estar e se ela havia mesmo sido sequestrada. Então, numa página que eu julgaria comum, alguma coisa me chamou atenção. Quarta-feira, 11 de novembro de 2009 Hoje cedo consegui ouvir alguma coisa na extensão de telefone que improvisei aqui no quarto. Parecia que meu pai estava discutindo com alguém, considerei isso uma coisa importante e tomei o telefone. Ouvi alguma coisa parecida com “Você sabe, eu não posso manter esse negócio, tenho uma família pra cuidar” e “Você é o nosso melhor administrador. Se não puder permanecer no negócio, sabe que vão tentar te apagar. Eu não quero que isso aconteça.”. Meu pai respondeu “Eu tenho um exemplo a dar, tenho uma filha pra terminar de criar, não vou entregar vocês” e “Você sabe demais Paulo. Tenha cuidado e pense bastante.” Assumo, eu tive medo. Desde que comecei ...

O LIVRO de Bárbara #08

Quarta-feira, 09 de setembro de 2009 Felipe me deu um presente. Eu trouxe o chaveiro da torre pra ele, mas isso não significava que ele tinha a obrigação de me dar um presente. Pra ser mais específica, é um chaveiro também. Só que o dele é diferente, daqueles chaveiros de letras. Ele disse que a proposta é meio gay, mas que eu não devo encarar assim. Só tem duas letras: BF. Eu perguntei por que e ele disse que era o jeito que melhores amigos se tratam hoje em dia, que ele já tinha dado um chaveiro daqueles à Tati e que isso significava “Best Friend”. Legal. O “B” é cor de rosa, o “F’ é azul. É bonitinho e já está na penca de chaves da minha casa. Às vezes eu penso que eu me apego demais às coisas pequenas que Felipe faz. Mas eu achei mesmo isso muito bonito. A gente não tem tanto tempo que se conhece, mas ele já é uma pessoa importante no meu dia-a-dia. O problema é que eu não acredito que isso vá a algum lugar. P.S: Se bem que, antes dele me explicar, imaginei que essas letras poderia...

O LIVRO de Bárbara #07

Segunda-feira, 17 de agosto de 2009 Hoje meu pai disse para onde pretende ir no feriado de 7 de setembro : Paris. Eu acho que é brincadeira. Enquanto ele não me mostrar as passagens, não vou acreditar. Pra quem saiu poucas vezes da própria cidade, sair do país é muito além da realidade. Eu nem tenho passaporte! Parece que vou começar o curso de inglês na próxima semana. Hoje meu pai trouxe aqui em casa uma senhora chamada Tereza , que vai trabalhar como empregada doméstica. Ainda acho que não temos necessidade disso, mas parece que ele quer algum motivo para gastar. Ultimamente, minha preocupação tem sido de onde meu pai está tirando esse dinheiro. Eu estou com vontade de procurar os contra cheques dele pra saber ele foi mesmo promovido. Ainda me parece muito estranha uma ascensão tão repentina. Terça-feira, 18 de agosto de 2009 Eu estava sem novidades com relação a Felipe esses tempos. Mas parece que ele faz questão de participar ativamente na minha vida. Está bem que eu gosto de...

O LIVRO de Bárbara #06

Quinta-feira, 30 de julho de 2009 Acho que hoje aconteceu mesmo alguma coisa que eu devo escrever aqui. Bem, eu acordei de manhã, tomei meu café e fui estudar um pouco no gabinete. Daí, bem quando eu estava bastante concentrada, meu pai aparece do nada e diz que tem uma surpresa pra mim. Achei estranho, afinal eu tenho ficado tanto tempo só que nem lembrava mais que ele existia. Não, mentira, eu fiquei muito feliz porque ele se lembrou de mim. Ele colocou uma venda nos meus olhos, e saiu da sala enquanto eu estava lá parada. “Pode tirar a venda” ele disse. Em cima da mesa tinha um netbook novinho em folha, lilás com estampa floral preta e meu nome escrito. Eu fiquei muito surpresa. Foi um presente excelente, eu sei, mas eu me perguntei onde foi que ele achou aquilo. Quando seu pai é administrador de uma empresa não tão grande de construção civil você acha estranho receber presentes caros. Quando ele reclama de todas as contas e diz que o dinheiro dele é voltado pra sua educação você...