Capítulo 7
- Ellie, esse é o Ben, um amigo da natação. Toca bem ele, não é? - Dan disse.
- Oi Ben. - Ela suspendeu os óculos e olhou pra mim como se estivesse examinando o cara pálido e paralisado na frente dela.
- Oi - A voz saiu um pouco estranha. Pigarreei e continuei. - Oi Ellie. É um prazer conhecê-la. Dan e Josh falaram de você.
- Humm, legal. E aí, vai ficar tocando com a gente? - Ela me perguntou.
- Ben não mora aqui Ellie. - Josh disse.
- Onde você mora Ben? – Ela perguntou
- La Palma - Respondi
- Não é assim tão longe. – Ellie continuou - Por que não ensaia com a gente por um tempo e depois você volta?
- Eu ainda estou estudando.
- Você está no último ano, certo Ben?
- Sim
- Por que não estuda aqui em Los Angeles? Se bem que o tempo de mandar as recomendações já passou...
- Mas eu mandei cartas para a UCLA também. Minha mãe me forçou a mandar cartas para o maior número de universidades possível. Então, estou esperando minha admissão ou recusa, quem sabe.
- Que dia você vai embora?
- Hoje
- O quê? Mas, por quê?
- Eu vim pra uma competição de natação que só ia durar o fim de semana. Já fiz as duas provas e hoje, no fim da tarde, estou voltando pra casa.
- Você não pode ficar só uma semana? – Ellie perguntou
- Meus pais ficariam preocupados e, além disso, eu não tenho onde ficar.
- Pode ficar na minha casa.
Conversei bastante com Ellie depois disso.
Ellie era da minha idade. Ela morava numa casa que seus pais tinham em Los Angeles. Tinha nascido lá, mas foi para Boston aos 13 anos, por que seu pai foi promovido. Não se adaptou à cidade e voltou pra Los Angeles assim que pode. Estava cuidando sozinha do que poderia ser chamado de pequena república, por que ficava perto do centro e alguns estudantes moravam lá.
Eu comecei a contar a história da natação, de como eu conheci Josh e Dan e que por acaso eles descobriram que eu tocava.
- Então, vai ou não vai ligar pra os seus pais? – Ellie perguntou.
- Ainda estou decidindo se vou ou não ficar. Vou ter provas na próxima semana.
- Você pode pedir a algum amigo para fazer anotações pra você. Vamos Ben, é só uma semana. Você mora relativamente perto, pode voltar nas férias, não pode? O festival vai ser em agosto, ainda faltam três meses.
- Está bem, vou ligar pra meus pais.
Fiquei pensando no que dizer pra minha mãe. Ela atendeu ao telefone.
- Alô?
- Mãe?
- Ben? Que bom ouvir sua voz! Quando você volta pra casa? Não deveria já estar aqui?
- Mãe, eu não vou voltar hoje.
- Como assim Ben?
- Eu pretendo ficar aqui mais uma semana.
- Vai fazer mais provas? E a escola?
- Eu quero ficar... – pensei num bom pretexto – Por que vou conhecer as universidades daqui. Eu já estou no último ano, tenho que saber pra onde vou quando terminar.
- Mas, que idéia é essa?
- Mãe, pense no meu futuro. Eu não quero ficar vendendo carros. – ela ficou em silêncio. – E, além disso, as universidades em Los Angeles são melhores.
- Quanto tempo você vai ficar aí?
- Uma semana, tempo suficiente para saber o que eu preciso.
- E onde você vai ficar?
- Na casa de uma amiga.
- Que amiga? Eu não conheço os pais dela.
- Mãe, aqui é mais ou menos uma república, o lugar onde eu devo morar quando começar a estudar.
- Olhe garoto, espero que você não me traga problemas.
- Eu volto no fim de semana. Prometo que estarei aí no máximo segunda.
- E como você vai voltar?
- Eu trouxe algum dinheiro.
- Você podia muito bem voltar com o pessoal da natação.
- Eu estou com o pessoal da natação
- Está bem Ben. Mas eu quero que você me ligue todos os dias, está entendendo?
Eu realmente tinha apelado com aquela história de “eu não quero ficar vendendo carros”. Mas não estava me faltando nada aqui. O problema é que eu acabaria perdendo meu emprego. Mas, eu daria outro jeito de pagar o que eu devia ao meu pai.
- Ben, você foi bem rápido em convencer sua mãe... – Ellie disse – Cara... Medo de você.
- Medo? – perguntei assustado
- É o jeito de falar da Ellie – Josh justificou
- Oh, sim... Mas eu tenho um problema – eu falei
- Que tipo de problema? – Dan perguntou.
- Eu trabalho também. E tenho uma dívida pra pagar. Se eu perder o emprego...
- É uma dívida grande? – Ellie perguntou
- Eu tomei um empréstimo com meu pai pra comprar uma guitarra. Uma Gibson.
- Cara, você é maluco? É a guitarra mais cara!
- Eu tinha uma grana guardada pra comprá-la, mas não era suficiente.
- É um bom investimento. – Ellie começou a dizer – O festival de bandas tem um prêmio de quinze mil pra a melhor banda. Se ganharmos, podemos dividir o dinheiro.
- Então, fica e ensaia Ben. Depois você vê o que faz. De qualquer modo, eu duvido que a gente não ganhe alguma coisa. – Dan disse
- Tão confiante... – Ellie transmitiu em palavras o que com certeza todos estavam pensando.
Eu passei no alojamento pra falar com o treinador Gibbs. Precisava ao menos avisar que não ia voltar com ele e pegar minhas coisas.
- Treinador, vim falar com o senhor. Não vou voltar pra La Palma com vocês.
- O que foi, achou uma namorada e resolveu ficar em Los Angeles? Sinto muito, tenho que te levar pra casa.
- Treinador, vou aproveitar minha estadia aqui e conhecer algumas universidades.
- Mesmo com um propósito tão nobre, eu sinto informar que tenho que te levar de volta.
- Eu já falei com meus pais. Se quiser, pode ligar pra eles.
O Treinador Gibbs confirmou tudo com meus pais e eu pude ficar em Los Angeles mais uma semana. Semana atarefada, diga-se de passagem. Ellie acertou que eu poderia ficar na república, mas eu precisava trabalhar junto com ela, pra ganhar minha grana de voltar pra casa. Além disso, eu era o único que não estava estudando ou trabalhando. Eu aceitei a proposta. Nem tudo são flores, enfim.
De manhã, quando todos saiam para estudar, eu ficava em casa, limpando ou cozinhando. Uma coisa boa é que eu sei cozinhar, então ninguém reclamava da comida. De tarde, nós sempre íamos à garagem do Dan pra ensaiar. No primeiro dia eles me mostraram algumas composições do Josh, que por sinal era nosso vocalista, e pediram que eu escolhesse duas melhores pra que pudéssemos apresentar no festival. Eu gostei de duas especialmente, ambas falando de praia e coisas comuns. Esses tempos, eu não estava muito bem pra músicas românticas. Essas eram mais rápidas e os instrumentos ficavam mais aparentes no arranjo que o Dan criou.
Mas eu não podia negar, mesmo ligando pra minha mãe todos os dias, estava ficando com saudades de casa. Liguei para o Kevin na terça-feira, pra saber como estava a escola.
- Ben, você enlouqueceu? Semana que vem nós vamos fazer provas, o que você ainda está fazendo em Los Angeles? – Foi o que ele me disse
- Calma Kevin. Estou conhecendo gente nova.
- Gente nova? Que papo ridículo é esse?
- Antes de qualquer coisa, posso te pedir um favor?
- Se isso não incluir nada fora da lei...
- Você, realmente... Quero que faça anotações das aulas pra mim, pode ser? E, pare com esse stress. Eu conheci uns caras legais da natação que tem uma banda. Estou na casa de uma amiga, nós estamos ensaiando para um festival de bandas.
- Realmente, você está maluco.
- Kevin – eu suspirei – Eu estou cansado da mesmice, da vida nessa escola, da Beatrice e do trabalho na lanchonete. Eu tenho o direito de saber o que eu não sei.
- Eu acho que esse direito inclui geometria, que você não sabe.
- Estou numa república, a maioria das pessoas estão estudando aqui, eu não estou perdendo nada.
- Tudo bem Ben, a escolha é sua.
- Eu liguei pra saber sobre você e a escola, não pra você ficar brigando comigo.
Kevin começou a falar das coisas óbvias que aconteciam naquela escola. Falou sobre Beatrice e Phil, coisa que eu não queria saber. E disse que estava apaixonado por uma professora substituta de química que tinha acabado de chegar. Ele só tinha visto a professora duas vezes. Bastante previsível. Minha vida era tão monótona em La Palma que eu entendi uma coisa: precisava mesmo ter vindo pra Los Angeles.
- Oi Ben. - Ela suspendeu os óculos e olhou pra mim como se estivesse examinando o cara pálido e paralisado na frente dela.
- Oi - A voz saiu um pouco estranha. Pigarreei e continuei. - Oi Ellie. É um prazer conhecê-la. Dan e Josh falaram de você.
- Humm, legal. E aí, vai ficar tocando com a gente? - Ela me perguntou.
- Ben não mora aqui Ellie. - Josh disse.
- Onde você mora Ben? – Ela perguntou
- La Palma - Respondi
- Não é assim tão longe. – Ellie continuou - Por que não ensaia com a gente por um tempo e depois você volta?
- Eu ainda estou estudando.
- Você está no último ano, certo Ben?
- Sim
- Por que não estuda aqui em Los Angeles? Se bem que o tempo de mandar as recomendações já passou...
- Mas eu mandei cartas para a UCLA também. Minha mãe me forçou a mandar cartas para o maior número de universidades possível. Então, estou esperando minha admissão ou recusa, quem sabe.
- Que dia você vai embora?
- Hoje
- O quê? Mas, por quê?
- Eu vim pra uma competição de natação que só ia durar o fim de semana. Já fiz as duas provas e hoje, no fim da tarde, estou voltando pra casa.
- Você não pode ficar só uma semana? – Ellie perguntou
- Meus pais ficariam preocupados e, além disso, eu não tenho onde ficar.
- Pode ficar na minha casa.
Conversei bastante com Ellie depois disso.
Ellie era da minha idade. Ela morava numa casa que seus pais tinham em Los Angeles. Tinha nascido lá, mas foi para Boston aos 13 anos, por que seu pai foi promovido. Não se adaptou à cidade e voltou pra Los Angeles assim que pode. Estava cuidando sozinha do que poderia ser chamado de pequena república, por que ficava perto do centro e alguns estudantes moravam lá.
Eu comecei a contar a história da natação, de como eu conheci Josh e Dan e que por acaso eles descobriram que eu tocava.
- Então, vai ou não vai ligar pra os seus pais? – Ellie perguntou.
- Ainda estou decidindo se vou ou não ficar. Vou ter provas na próxima semana.
- Você pode pedir a algum amigo para fazer anotações pra você. Vamos Ben, é só uma semana. Você mora relativamente perto, pode voltar nas férias, não pode? O festival vai ser em agosto, ainda faltam três meses.
- Está bem, vou ligar pra meus pais.
Fiquei pensando no que dizer pra minha mãe. Ela atendeu ao telefone.
- Alô?
- Mãe?
- Ben? Que bom ouvir sua voz! Quando você volta pra casa? Não deveria já estar aqui?
- Mãe, eu não vou voltar hoje.
- Como assim Ben?
- Eu pretendo ficar aqui mais uma semana.
- Vai fazer mais provas? E a escola?
- Eu quero ficar... – pensei num bom pretexto – Por que vou conhecer as universidades daqui. Eu já estou no último ano, tenho que saber pra onde vou quando terminar.
- Mas, que idéia é essa?
- Mãe, pense no meu futuro. Eu não quero ficar vendendo carros. – ela ficou em silêncio. – E, além disso, as universidades em Los Angeles são melhores.
- Quanto tempo você vai ficar aí?
- Uma semana, tempo suficiente para saber o que eu preciso.
- E onde você vai ficar?
- Na casa de uma amiga.
- Que amiga? Eu não conheço os pais dela.
- Mãe, aqui é mais ou menos uma república, o lugar onde eu devo morar quando começar a estudar.
- Olhe garoto, espero que você não me traga problemas.
- Eu volto no fim de semana. Prometo que estarei aí no máximo segunda.
- E como você vai voltar?
- Eu trouxe algum dinheiro.
- Você podia muito bem voltar com o pessoal da natação.
- Eu estou com o pessoal da natação
- Está bem Ben. Mas eu quero que você me ligue todos os dias, está entendendo?
Eu realmente tinha apelado com aquela história de “eu não quero ficar vendendo carros”. Mas não estava me faltando nada aqui. O problema é que eu acabaria perdendo meu emprego. Mas, eu daria outro jeito de pagar o que eu devia ao meu pai.
- Ben, você foi bem rápido em convencer sua mãe... – Ellie disse – Cara... Medo de você.
- Medo? – perguntei assustado
- É o jeito de falar da Ellie – Josh justificou
- Oh, sim... Mas eu tenho um problema – eu falei
- Que tipo de problema? – Dan perguntou.
- Eu trabalho também. E tenho uma dívida pra pagar. Se eu perder o emprego...
- É uma dívida grande? – Ellie perguntou
- Eu tomei um empréstimo com meu pai pra comprar uma guitarra. Uma Gibson.
- Cara, você é maluco? É a guitarra mais cara!
- Eu tinha uma grana guardada pra comprá-la, mas não era suficiente.
- É um bom investimento. – Ellie começou a dizer – O festival de bandas tem um prêmio de quinze mil pra a melhor banda. Se ganharmos, podemos dividir o dinheiro.
- Então, fica e ensaia Ben. Depois você vê o que faz. De qualquer modo, eu duvido que a gente não ganhe alguma coisa. – Dan disse
- Tão confiante... – Ellie transmitiu em palavras o que com certeza todos estavam pensando.
Eu passei no alojamento pra falar com o treinador Gibbs. Precisava ao menos avisar que não ia voltar com ele e pegar minhas coisas.
- Treinador, vim falar com o senhor. Não vou voltar pra La Palma com vocês.
- O que foi, achou uma namorada e resolveu ficar em Los Angeles? Sinto muito, tenho que te levar pra casa.
- Treinador, vou aproveitar minha estadia aqui e conhecer algumas universidades.
- Mesmo com um propósito tão nobre, eu sinto informar que tenho que te levar de volta.
- Eu já falei com meus pais. Se quiser, pode ligar pra eles.
O Treinador Gibbs confirmou tudo com meus pais e eu pude ficar em Los Angeles mais uma semana. Semana atarefada, diga-se de passagem. Ellie acertou que eu poderia ficar na república, mas eu precisava trabalhar junto com ela, pra ganhar minha grana de voltar pra casa. Além disso, eu era o único que não estava estudando ou trabalhando. Eu aceitei a proposta. Nem tudo são flores, enfim.
De manhã, quando todos saiam para estudar, eu ficava em casa, limpando ou cozinhando. Uma coisa boa é que eu sei cozinhar, então ninguém reclamava da comida. De tarde, nós sempre íamos à garagem do Dan pra ensaiar. No primeiro dia eles me mostraram algumas composições do Josh, que por sinal era nosso vocalista, e pediram que eu escolhesse duas melhores pra que pudéssemos apresentar no festival. Eu gostei de duas especialmente, ambas falando de praia e coisas comuns. Esses tempos, eu não estava muito bem pra músicas românticas. Essas eram mais rápidas e os instrumentos ficavam mais aparentes no arranjo que o Dan criou.
Mas eu não podia negar, mesmo ligando pra minha mãe todos os dias, estava ficando com saudades de casa. Liguei para o Kevin na terça-feira, pra saber como estava a escola.
- Ben, você enlouqueceu? Semana que vem nós vamos fazer provas, o que você ainda está fazendo em Los Angeles? – Foi o que ele me disse
- Calma Kevin. Estou conhecendo gente nova.
- Gente nova? Que papo ridículo é esse?
- Antes de qualquer coisa, posso te pedir um favor?
- Se isso não incluir nada fora da lei...
- Você, realmente... Quero que faça anotações das aulas pra mim, pode ser? E, pare com esse stress. Eu conheci uns caras legais da natação que tem uma banda. Estou na casa de uma amiga, nós estamos ensaiando para um festival de bandas.
- Realmente, você está maluco.
- Kevin – eu suspirei – Eu estou cansado da mesmice, da vida nessa escola, da Beatrice e do trabalho na lanchonete. Eu tenho o direito de saber o que eu não sei.
- Eu acho que esse direito inclui geometria, que você não sabe.
- Estou numa república, a maioria das pessoas estão estudando aqui, eu não estou perdendo nada.
- Tudo bem Ben, a escolha é sua.
- Eu liguei pra saber sobre você e a escola, não pra você ficar brigando comigo.
Kevin começou a falar das coisas óbvias que aconteciam naquela escola. Falou sobre Beatrice e Phil, coisa que eu não queria saber. E disse que estava apaixonado por uma professora substituta de química que tinha acabado de chegar. Ele só tinha visto a professora duas vezes. Bastante previsível. Minha vida era tão monótona em La Palma que eu entendi uma coisa: precisava mesmo ter vindo pra Los Angeles.
estamos com um seriado que se chama Icarlinhos da bahia entrem em www.icarlinhos.blogspot.com
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