Capítulo 12

No dia seguinte, Beatrice veio novamente para a nossa mesa. Quando eu a vi caminhando pelo refeitório, passando direto pela sua mesa de sempre, pela mesa do namoradinho dela e vindo na minha direção, eu fiquei sem ação.

- Ela está vindo pra cá de novo Ben. – Kevin disse.
- Eu estou vendo, mas não estou acreditando – Eu respondi.
- Pra mim, ela está te dando mole.
- Ela não é esse tipo de garota. Mesmo que o namorado dela seja aquele Phil, ela nunca ia fazer isso com ele.
- Isso é o que você pensa. – Kevin calou a boca e Beatrice chegou.
- Oi meninos! Posso me sentar com vocês de novo? Gostei muito da nossa conversa de ontem. – Enquanto Beatrice falava, Kevin olhava pra minha cara, como quem queria comprovar a teoria de que Beatrice estava mostrando interesse. Eu o ignorei.
- Pra mim foi muito bom conversar com você também. – Eu disse e Kevin sorriu disfarçadamente. Ele sabia o quão empolgante aquela conversa tinha sido pra mim. Tinha falado sobre isso o resto do dia.
- E aí, vamos falar sobre o que hoje? – Kevin perguntou.
- Eu estava pensando, você disse que faz natação. Por que não nada aqui na escola? – Ela me perguntou
- Ele começou a nadar antes de estudar aqui, na época da Walker Junior. – Kevin respondeu no meu lugar.
- E eu não fui aceito lá. – completei.
- Ah, é uma pena. Mas esse ano você podia nadar aqui, não é mesmo? – Beatrice perguntou.
- Já estamos perto de terminar a escola, não tinha por que. – Eu respondi
- Na verdade, ele não queria que todos soubessem que ele é bom na água. – Kevin falou e Beatrice riu.

Conversamos muito enquanto comíamos e Beatrice me fez uma série de perguntas. Óbvio que Kevin usou esse fato para alimentar sua teoria a respeito do interesse de Beatrice por mim. Eu continuava sem acreditar.

Beatrice começou a ficar sempre com a gente. Vê-la todos os dias no intervalo e conversar com ela animadamente estava me deixando cada vez mais realizado. Eu nunca pensei que isso poderia acontecer um dia. Ela sempre perguntava sobre várias coisas. Perguntou do meu tipo de comida favorito até as bandas que eu gostava. Phil sempre nos observava de longe, mas eu estava tão interessado no que Beatrice falava que me esquecia dele. O mais incrível era que, mesmo com a clara irritação de Phil, Beatrice parecia não se importar.

Phil passou a andar sempre com uma das líderes de torcida, uma garota loira chamada Cameron Williams. Todo mundo notava que ela estava gostando dele e isso fez Kevin concluir que Phil e Beatrice não estavam mais juntos.

- Aí cara, é a sua chance. Eles não estão mais namorando. Ela sempre fica na nossa mesa, eles não se falam mais, ele está andando pra cima e pra baixo com a Cam. Está na cara que eles terminaram! Quanto tempo mais você vai esperar? – Kevin me perguntou um dia quando voltávamos da escola.

Comecei a observar Beatrice e Phil. O que Kevin disse fazia realmente sentido. Se eles não tinham terminado o namoro, ou estavam num momento difícil, ou eram um casal no mínimo frio.

Depois de três dias pensando muito nisso, resolvi chamar Beatrice para sair. Não precisava ser uma coisa muito grande, ia chamá-la para ir ao Krikorian assistir um filme ou só dar umas voltas de bicicleta no parque. No dia em que eu fui decidido a falar com ela sobre isso, ela simplesmente não foi para a nossa mesa. E, então, do nada parou de falar comigo.

Eu esperei um dia, outro e mais outro. Esperei uma semana. Quando já tinha quase duas semanas que ela nem sequer olhava pra minha cara, eu fui perguntar o que estava acontecendo. Quando ela estava saindo da sala pra ir embora, e Phil não estava com ela, dei um jeito de pará-la no corredor.

- Beatrice, quero te perguntar uma coisa.
- Você não tem nada pra me perguntar Ben. – Ela respondeu e voltou a andar, ainda sem querer olhar pra mim.
- Sim, eu tenho. – eu a segurei pelo braço – O que está acontecendo Beatrice? Por acaso eu fiz alguma coisa que eu não notei? Não entendi por que você parou de falar comigo assim, do nada.
- Ben, eu tenho uma vida, sabia? E preciso cuidar dela. – Ela respondeu grosseira, se soltando da minha mão.

Eu a deixei ir, decidido a nunca mais olhar na cara dela. Apanhei meu ipod na mochila e coloquei os fones no ouvido. A música sempre era uma fuga. Quando apertei o play, estava tocando Somewhere a clock is ticking. Encarei como um sinal de que o tempo estava passando e eu devia me concentrar no que ia me levar a algum lugar, ou seja, esquecer aquela garota. Faltavam menos que três meses para acabar com tudo isso e eu ir pra Los Angeles.

O problema era que Beatrice não me deixava em paz, mesmo sem querer. Ela estava sempre na minha vista, sempre na minha sala. No sábado ela foi ao meu treino de natação. Quase que eu a colocava pra fora. Mas não fiz isso. Nem olhei pra ela, ela não merecia sequer ouvir minha voz.

O tempo foi passando e eu fui me empenhando cada vez mais na guitarra. Meus pais deviam estar cansados de me ouvir repetir mil vezes as mesmas músicas, procurando a perfeição. Eu dei um jeito de esconder a guitarra da Claire, pra que ela não destruísse minha única alegria. Eu via que Kevin estava ficando preocupado comigo, mas ele não falava nada.

Em maio, algum tempo depois da mudança brusca de Beatrice, começaram os preparativos para o baile. A escola estava ficando agitada com o fim do ano letivo, a formatura chegando, a graduação, o fim dos estudos. Eu me sentia cada vez mais afastado de La palma, a cada dia que passava. Então, uma manhã encontrei um bilhete no meu armário. Estava escrito num pequeno papel rasgado:

Ben, vou escrever pouco. Me desculpa, não estou conseguindo mais me manter afastada de você. Eu não suporto mais isso. Você não fez nada, eu que estou errada. Phil não quer que sejamos amigos. Eu amo o Phil, não é uma troca, mas uma escolha quase obrigatória. Me desculpe se estou te magoando. Por favor, responda.

Beatrice

Eu não ia responder. O meu silêncio ia fazê-la sentir o que eu senti durante as duas semanas que ela não falou comigo. Estava decidido.