Capítulo 16

Fui caminhando e respirando fundo, pensando no que eu queria dizer. Parei, um pouco distante da quadra, e as palavras começaram a sair sem minha permissão.

- Me desculpe Ben, não aguento mais isso. - Nem parecia que era eu que estava falando. O som da minha voz parecia uma gravação pra mim.
- Não aguenta? O quê? - Ben me perguntou
- Ficar longe. Não aguento mais. - O encarei e respondi. Eu sempre ficava mais fraca quando olhava pra ele. Então, aquela era a hora de revelar tudo.
- Foi uma escolha sua Beatrice, eu respeitei. - Noti que ele não me olhou quando disse isso. Comecei a ficar com medo e meu coração acelerou.
- Então, quer dizer que você vai para Los Angeles. - Estava me segurando pra não começar a chorar. Pensar que Ben ficaria longe me deixava abatida - É uma coisa permanente? - Talvez ele fosse passar as férias.
- Vou morar em Los Angeles. - Isso foi um baque. Eu também iria para Los Angeles estudar, mas a cidade era tão grande, eu não tinha nenhuma garantia de que o veria de novo.
- Você não pode ir agora. - Minha cabeça girava, e uma pressão enorme me obrigava a falar o que eu tanto tentava esconder.
- Por que? - Ben só fazia perguntas, todo tempo, e eu ficava cada vez mais nervosa
- Estou apaixonada por você. - Não sabia o que seria dali por diante, como as coisas iriam ficar, eu só falei.
- Beatrice, eu não acredito. Por que você está com Phil então? - Ele não acreditava?
- Não quero que ele te machuque. - Foi minha resposta. Era só por isso que eu ainda estava com Phil.
- Não quer que ele me machuque? Você está me machucando mais do que ele poderia, muito mais. Eu sei Beatrice, você deve estar com pena de mim. Mas eu não quero que você sinta pena. Não precisa fazer isso por pena. Eu já falei, pode ficar com ele, vou superar. - Eu estava machucando? Ele nem parecia gostar de mim! E por que eu ficaria com pena?
- Superar? - Não tinha entendido essa última parte. Aliás, já não estava entendendo mais nada.
- Beatrice, todos sabem que eu... - Ben parou eu fiquei mais ansiosa nesse segundo do que em toda minha vida - eu te amo desde que eu te conheci. - O peso dessas palavras me livrou da pressão que eu sentia na cabeça. - Você não precisa fazer isso por pena. - Pena... Por que ele falava tanto nisso? Eu o abracei o mais forte que pude, pra mostrar como eu estava feliz de ouvir aquilo. Por um momento pensei que fóssemos nos beijar por que ele parecia estar reagindo bem a tudo isso. Mas, de repente, ele se afastou, parecendo ainda não acreditar no que eu tinha dito e feito.
- Ben... - Não conseguia entender por que ele estava se afastando.
- Eu esperei muito tempo por isso. Mas eu, simplesmente, detesto beijos de despedida. - Ben falou e foi embora.

Pra que aquele momento ficasse pior, só faltou chover. O que passava pela cabeça daquele garoto? Eu falei o que eu sentia e ele achou que eu estava mentindo! Me sentei no chão e comecei a chorar. Uma música romântica começou a tocar lá na festa e parecia que, por mais que eu tentasse levantar, mais presa eu ficava no chão. A música dentro da quadra não parava de ecoar na minha mente: you give me something that makes me scared, alright,
this could be nothing but I'm willing to give it a try, please give me something 'cause someday I might know my heart.


Eu ouvi alguém soluçar deseperadamente. Comecei a me preocupar com quem poderia ser. Quando tentei fazer silêncio pra escutar, a pessoa parou de chorar. Então, notei que era eu. Precisava ir pra casa. Phil chegou onde eu estava e me viu chorando.

- Bee? O que está acontecendo? Você se machucou? Por que está sentada no chão? - Ele me encheu de perguntas. Eu não queria responder nada.
- Quero ir pra casa.
- Tudo bem, eu te levo em casa. Aconteceu alguma coisa?
- Nada que você precise saber. - Phil ignorou minhas palavras, me ajudou a levantar e me levou até o carro.
- Sabe, foi muito legal ser o rei do baile, é uma pena que eu não pude ficar lá mais tempo. - Ele disse quando entramos no carro. Fiquei em silêncio - Então Beatrice, tem a ver com aquele cara, não é?
- Não sei do que você está falando. - Preferia evitar brigas e esperar chegar em casa, o que não ia demorar muito.
- Mas é claro que você sabe. Eu posso não ser o mais inteligente da turma, mas estou entendendo tudo o que está acontecendo. - Phil disse e eu continuei em silêncio.

Ele parou o carro na entrada da minha casa, travou as portas e disse que eu só iria sair depois que falasse.

- Você não manda em mim Phil.
- É assim que você pensa? - Ele falou e eu comecei a ficar com medo. Ele nunca tinha falado daquele jeito comigo.
- O que você quer saber? - perguntei, ficando com ódio.
- Você estava com Ben Smith enquanto eu estava na quadra, não foi? - Eu respirei fundo. Não sabia o que ele poderia fazer e assenti. - Você pensou que podia se esconder?
- Por acaso você é meu pai?
- Mas vocês não se beijaram. Ele não te quis, não é? - Phil estava fazendo aquilo pra me magoar. As lágrimas começaram a cair. Continuei em silêncio. - Você gosta muito dele. Interessante saber disso.
- O que você vai fazer Phil? - O medo aumentava cada vez mais. - Eu vou gritar, me deixe sair do carro.
- Você não precisa gritar. - Phil disse isso e me beijou com raiva. Eu nunca detestei tanto ser beijada. Empurrei-o com repulsa. Ele se afastou. - Diferente dele, eu gosto de beijos de despedida. - Ele disse e destravou o carro.
- Eu odeio você. - Eu disse, explodindo. Abri a porta no ímpeto de me afastar logo dele.
- Pode ir. - Phil falou quando eu saí do carro. - Mas saiba que ele ainda vai me pagar.

Phil acelerou de vez e eu fiquei parada na porta, pasma. Não sabia o que fazer. Entrei em casa e subi correndo as escadas. Minha mãe ficou preocupada, mas eu não expliquei direito o que tinha acontecido. Só disse que tinha terminado tudo com Phil. Liguei pra Ben, pra falar o que Phil tinha dito só que, apesar da minha insistência ele não atendeu e desligou o celular. Eu estava tão nervosa. Era tarde, quase meia noite, eu não podia sair de casa.

Fiquei me perguntando o que Phil ia fazer. Pra mim, a reação dele foi uma surpresa desagradável. Ele sempre tinha sido tão amável e calmo, tão atencioso. Mas eu não podia esquecer que ele sempre gostou de bater em outros garotos, ele era violento. Eu não sabia do que ele era capaz, ele tinha criado um outro Phil pra mim. O verdadeiro eu havia conhecido hoje. O estresse me fazia chorar cada vez mais e eu pensava também em por que Ben não tinha acreditado em mim. Ele tinha dito que me amava. O que eu tinha feito que era tão impossível pra ele acreditar que eu o amava também?

Tive um estalo e as coisas começaram a fazer sentido. Phil sempre soube que Ben gostava de mim, tanto que parou de falar comigo por que eu estava andando com ele. Phil devia ter ficado comigo só pra atingir o Ben! Comecei a pensar em como devia ter sido divertido pra ele ver o que estava acontecendo. Passei a madrugada toda acordada e só peguei no sono quando o dia começou a clarear. Mas, quando estava relaxando, minha mãe entrou no quarto dizendo que tinha alguém querendo falar comigo no telefone e que era urgente.

- Alô? - Eu atendi.
- Beatrice? - a voz perguntou.
- Quem está falando? - Era urgente, me preocupava quem podia ser.
- Sou eu, Kevin. - Ele respondeu e minha preocupação aumentou - É que ontem à noite...
- Aconteceu alguma coisa com o Ben? O que foi que houve? Ele está bem? O que Phil fez? - Interrompi Kevin com uma série de perguntas.
- Calma Beatrice, não aconteceu nada com o Ben. - Fiquei mais tranquila, parecia que minha respiração fluía mais fácil.
- Então, o que houve?
- Philip, sofreu um acidente.
- Como assim? - Voltei a me preocupar.
- Ontem à noite, ele voltou à escola procurando pelo Ben. Eu achei estranho, já que Ben tinha saído de lá cedo. Phil saiu daqui dizendo que ia na casa do Ben, dirigia muito rápido e bateu num caminhão. - Eu estava digerindo as palavras - Está no hospital. Pensei que você ainda não sabia e resolvi te ligar. Espero que ajude em alguma coisa.

Eu agradeci ao Kevin por me ligar, e entrei em contato com a família do Phil pra saber mais sobre o que tinha acontecido. A mãe dele estava muito abalada por que o acidente tinha sido grave. À tarde, fui visitá-lo no hospital. O rosto de Phil estava completamente machucado, ele tinha talas por todos os lados. O que a mãe dele disse depois foi o pior: era possível que ele nunca mais andasse.

Comentários

  1. Posso falar uma coisa? Eu sei que deve ter gente querendo me matar depois que eu disser isso, mas EU GOSTEI PRA CARAMBA!!!! hsauhaushuah O Phil se lenhou BONITO! HAUHSAUHUAHSUAH amei... eu, eu, eu, o Phil se ferrou!!! hauhsuahsuhas

    Por outro lado, tadinha da Bee... Mas eu entendo a atitude do Ben. L.A. vem aí, Ellie também... Não percam os próximos episódios de...

    SOMEWHERE A CLOCK IS TICKING!

    Versão brasielira - Herbert Richers.

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  2. CARAAAAAAAACA!

    que capítulo inesperado hein?

    muito forte, mas no fim das contas eu gostei (do capitulo, não do acidente, afinal, tadinho do cara do caminhão.. auhsuashuahsa... brinks, do Phil tb)

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