Capítulo 23
No quarto dia em Los Angeles, tive que voltar à La Palma pra levar minha mãe e irmã até em casa. Assumo que não estava com muita vontade de fazer isso, mas elas tinham vindo comigo, precisavam voltar comigo.
Não tive nem tempo de me despedir do pessoal direito. Deixei minha mala na casa de Ellie e aproveitei a viagem pra pegar mais roupas. Ellie provavelmente foi a única a saber o horário que eu estava indo embora, por que eu precisava manter contato com ela.
Voltei no mesmo dia que fui. Saímos pela manhã e o trânsito não contribuiu muito com o meu retorno breve. Passei quase duas horas só indo. Minha mãe me fez almoçar em casa e meu pai tocou numa questão importante: como eu me sustentaria em Los Angeles? Tinha a questão da mesada, mas eu precisava de um novo emprego.
Quando cheguei na casa de Ellie, quase quatro da tarde, não encontrei-a em casa. Decidi que ia aproveitar o momento pra procurar algum lugar que quisesse alguém só meio turno. Ou seja, o impossível. Pensei em virar diarista, lavar carros, sei lá.
Ellie chegou à noite, no mesmo horário que eu cheguei da minha saga.
- Ben? Está chegando agora de La Palma? - Ela perguntou quando me viu sair do carro.
- Não, fui procurar um emprego. - Disse, acompanhando seus passos pelo jardim até a casa.
- E aí, achou alguma coisa? - Ela perguntou.
- Nada de meio período. - falei desanimado - Eu não quero ficar aqui como um agregado, preciso me bancar também.
- Eu acho que posso te ajudar. - Ellie disse, sentando-se no sofá.
- Mais do que você já está me ajudando? Acho um pouco impossível... - Falei, me sentando ao lado dela.
- Lembra daquele lugar em Santa Mônica onde alugamos as pranchas? - Eu assenti com a cabeça - Então, o dono, Jeremy, é meu amigo.
- Deu pra notar - eu disse.
- Não importa - Ela me cortou - Se você quiser, talvez ele te consiga uma ponta de meio período, dependendo do horário que você estude. Ele e a esposa estão precisando de um ajudante, então você pode ficar lá. Vou falar com eles.
Ellie pegou o celular e ligou pra o casal. Ela acertou com eles que eu iria lá no outro dia, e eu não podia recusar. No dia seguinte fui à Santa Mônica logo pela manhã, e falei com Jeremy.
- Você é aquele que veio aqui um tempo atrás e alugou uma prancha? - Jeremy perguntou.
- Sim.
- Ben, não é? Me lembro de você. Essa aqui é minha esposa Ruth.
- Olá Ruth, posso chamá-la assim mesmo? - perguntei.
- Tudo bem, sem problemas, você não precisa nos chamar de senhor e senhora. - Ruth respondeu.
- Então Ben, quando você está disponível?
- Por enquanto, seria melhor pra mim trabalhar pela manhã, mas em breve eu vou pegar meus horários na universidade, não sei como vai ficar ao certo.
- Está bem. Pagamos o salário mais a comissão por pranchas alugadas. Então, se esforce garoto. E saiba que só começamos às nove, por que a praia fica meio vazia antes disso.
- Pra mim está ótimo. Que dia posso começar?
- Como você provavelmente não se preparou pra ficar aqui já hoje, amanhã espero você.
- Muito obrigado Jeremy.
Dali por diante eu tinha uma certeza: pelo menos eu poderia pagar minha estadia na república e minha gasolina. Voltei pra casa e fiquei na minha função de antes, na cozinha. Como a casa estava mais vazia esses tempos, nem era tão difícil assim. Somente eu, Ellie, Natasha e Paula estávamos em casa. Gerald tinha viajado pra visitar a família, assim como os outros três moradores.
À tarde fomos ensaiar na casa do Dan. Ellie foi primeiro e eu fiquei surpreso em como ela e Noah estavam próximos. Pra quem tinha se conhecido no dia anterior, estavam muito cheios de assunto.
- Ben, eu te disse que Noah mora em frente à minha casa? - Ellie perguntou, quando me viu chegando.
- Não, não que eu me lembre. - respondi.
- Eu estou morando na casa da frente já há uns três anos. Me lembro quando Ellie chegou. - Noah disse.
- Eu morei ali antes Noah, antes de você chegar. - Ellie falou
- Imaginei isso, a maioria dos vizinhos te conhece... - ele comentou.
- Então, vamos ou não vamos ensaiar? - Perguntei. Eu realmente não estava gostando muito da aproximação de Ellie e Noah, mesmo por que ele parecia muito interessado nela.
Treinamos umas músicas à tarde, mas o ensaio foi meio desconcentrado, talvez por que Noah era novato e Josh estava ensinando as músicas em particular, ou talvez por que eu estava nos vocais. As músicas do Josh eram boas cantadas por ele. Então, resolvemos treinar mais Kisses of goodbye, porque todos estavam pegando o arranjo e eu saberia cantar melhor.
Comecei a trabalhar no dia seguinte e fui bem no aluguel das pranchas. Não parava de me perguntar o que Ellie estava fazendo enquanto eu estava fora e o que ela faria se eu estivesse em casa. Essas não eram coisas boas de se pensar, principalmente sabendo que o vizinho da frente estava cheio de interesse nela. E se eles estivessem treinando um baixo com bateria na garagem da casa dele? E se eles estivessem passeando juntos enquanto eu passava a manhã trabalhando na praia? Por que eu estava me perguntando isso? Ela devia estar treinando a bateria com o pessoal ou fazendo algo mais importante do que visitando o Noah. Ellie era uma boa garota, não tinha que ficar com ciúmes dela. E nós tínhamos uma sintonia tão boa que eu esquecia de tudo isso quando estávamos juntos.
No fim de semana eu também precisava trabalhar, mas minhas tardes eram livres. O pessoal foi pra a praia no sábado, enquanto eu trabalhava no aluguel de pranchas. Noah também foi. De qualquer modo, eu estava bem ali pra ver qualquer tentativa dele de ficar mais próximo da minha namorada.
O mais terrível foi ver que ele surfava. Pior, era um excelente surfista. Sempre que eu ia surfar com Ellie, ela ria mais dos meus caldos do que ficava me admirando. E, dessa vez, eu vi Ellie observando o Noah, e eu também estava fazendo isso. O cara era mesmo muito bom.
Não sei se minha expressão me denunciou, mas Ellie deu uma passada na loja pra me levar uma água de coco.
- E aí, curtindo muito o sol? - ela perguntou
- Não tanto quanto você. - respondi
- Calma, daqui a meia hora acaba o seu horário. Que tal pegar uma onda comigo e Noah? - Ellie sugeriu, toda animada.
- Não sei, prefiro ver você surfar. Além disso, eu não sou tão bom quanto ele. - Eu disse apontando para Noah, que acabava de pegar um tubo daqueles.
- Pra mim, você é ótimo. - Ellie disse e sorriu. Eu amava quando ela fazia essas coisas, mesmo que eu ficasse um pouco acanhado.
- Você que é ótima - eu disse e a beijei.
- Vocês vão mesmo ficar namorando aqui? Ben, esquece a Ellie e presta atenção nos clientes. - Jimmy falou quando os viu.
- Ops, acho que tenho que ir - Ellie falou. Eu estiquei o cabelo todo pra trás e soltei de vez, era meu sinal de que não queria fazer isso. Ellie entendeu - Só mais vinte e cinco minutos Ben, eu vou ficar te esperando.
- Está bem. - Falei a contragosto
Sorvi de vez a água de côco do canudo enquanto Ellie caminhava de volta para onde ela estava. Ela parou no meio do caminho, me deu tchauzinho e foi pra a água. Parecia que era um tipo de competição entre ela e Noah, pra ver quem era melhor.
- Sei como é isso. - Jeremy disse. Eu não entendi - Tive que me esforçar muito pra conseguir a Ruth. Sempre tinha concorrência.
- Imagino - eu disse
Jeremy tinha uns trinta e cinco anos, por aí. Ruth parecia ter uma idade próxima. A cor da pele e o cabelo loiro e comprido de Jeremy mostravam que ele tinha muito tempode surf. E Ruth surfava também, como Jeremy me contou. Eles não tinham filhos e cuidavam do negócio das pranchas já há uns cinco anos. Jeremy me disse que conheceu Ruth na praia e quando bateu os olhos nela, sabia que era com ela que ia casar. Me disse que Ruth tinha namorado quando eles se conheceram, mas ele foi tão insistente que não teve namoro resistisse. Jeremy me falou que brigou literalmente pela Ruth, mas que no fim de tudo, Ruth preferiu ficar com ele.
Quando bati os olhos na Ellie pensei "mas que gata" e não "é com ela que eu quero casar". Eu nem sequer achei que tinha chance com ela. A última vez que eu tinha sentido isso foi por... eu preferia nem me lembrar o nome dela. Ainda sentia alguma coisa lá no fundo, mesmo que Ellie fosse uma garota excelente e me deixasse muito feliz.
- Tudo bem, vou apoiar sua causa, pode pegar uma das pranchas emprestadas aqui, mas todo cuidado é pouco, está bem? - Jeremy ofereceu.
- Valeu mesmo Jeremy.
- Não esquece de devolver no fim do dia.
Então eu já sai da loja tirando a camisa e me jogando na água. Não podia perder muito tempo com aquele cara voando por ali.
- Viu que o tempo passou rápido? - Ellie disse quando me viu na água.
- Melhor, posso passar mais tempo com você. - Eu disse e beijei Ellie, bem ciente de que Noah estava bem ali do lado.
- Acho que vou pegar aquela ali - Noah disse apontando pra a onda que se aproximava. É, vai mesmo... pensei.
- Espera Noah! Nós vamos também, não é Ben? - Eu não estava nem um pouco afim de participar daquela competição, mas não tinha muita escolha.
- É, vamos.
E o dia na praia passou voando. Voando também passaram três semanas, desde que eu vim pra Los Angeles com minha mãe e Claire. Ellie me divertia muito, e nós saíamos quase todas as tardes pra passear. Assim eu conheci os melhores lugares de Los Angeles, longe de toda agitação turística. E Noah pareceu se tocar de que Ellie estava acompanhada, que não precisava muito dele ao redor. Ellie passava as manhãs lá na garagem com ele, mas era na casa da frente, eu chegava e os via conversar. Então, não tinha por que ter ciúme.
Eu e Ellie estávamos muito bem até uma manhã inesperada. Era um sábado, eu estava de folga, Ellie tinha me dito que uma prima dela vinha passar uns dias aqui. Até aí tudo bem. Eu não me lembrava de Ellie ter dito o nome da prima, não estava muito preocupado com isso, afinal, aquela casa estava sempre tão cheia de gente, na próxima semana receberíamos Kevin, Rebecca e Rachel, uma pessoa a mais, uma a menos, não ia fazer tanta diferença. Claro que Ellie tinha que dar atenção à visita, mas eu não estava mesmo me ligando muito com isso.
Sábado de folga é dia de lavar o carro e limpar a casa. Fizemos o multirão do fim de semana pra organizar nossa morada, cada um com suas atribuições. Quase meio-dia e a prima de Ellie não tinha chegado ainda, então resolvemos lavar os carros, o meu e o dela.
- E aí, vamos terminar a segunda etapa da limpeza? - Ellie disse, se referindo aos carros.
- Tudo bem, duvido que você seja mais rápida do que eu lavando a sua banheira.
- Banheira? Aquele carro é um clássico! - Ellie respondeu.
- Clássico? Eu ainda prefiro o meu carro.
- Covardia, hein?
Carregamos os baldes de água até o jardim e trouxemos os carros pra fora da garagem. Ellie ligou a mangueira. Parecia que ela sempre tinha que brincar com água.
- Vamos ver quem vai ser mais rápido depois da minha arma secreta. - Ela disse e ligou a mangueira na minha direção. Eu tentei me esquivar, mas Ellie ria tanto que eu comecei a rir também.
- Você que está fazendo covardia, não é? - Eu disse, pra ela e a segurei - Vamos, vamos lavar os carros, se não eles vão ficar aqui sujos e a gente vai gastar toda a água só brincando.
- Está bem, falou que nem meu pai agora. - Ellie disse
- Não, eu sou diferente.
- Diferente? De que jeito?
- Bom, acho que eu não preciso explicar, você entende.
- Sério? - Ellie sorriu - Vou te contar uma coisa - ela disse, esfregando o carro - eu sempre quis sair correndo e me jogar em cima de alguém que pudesse me carregar.
- É mesmo? - Ellie assentiu - E você quer que eu seja essa pessoa, acertei?
- Que namorado inteligente que eu arranjei...
- Pode vir!
Ellie veio correndo na minha direção e eu fui me preparando pra aguentar o impulso que ela estava tomando. Ela pulou em cima de mim e nós nos beijamos por um tempo. Aí, um carro parado na porta, buzinou. Achei meio estranho, mas imaginei que fosse a prima dela, então voltei a lavar meu carro. Ellie me puxou do meu afazer e eu vi saindo do carro Beatrice, linda com jeans e camiseta, levantando os óculos e sorrindo. Era quem eu menos esperava ver.
Beatrice me olhou e o sorriso que ela dava para Ellie sumiu.
- Ben? - Ela falou, parecendo não acreditar que eu estava ali.
- Beatrice... - Eu não conseguia aceitar que ela estava ali na minha frente - O que você...? - Eu nem sabia o que perguntar.
- Vocês se conhecem? - Ellie me perguntou. Eu e Beatrice permanecemos em silêncio. Eu não tinha o que dizer. - Meu Deus... É ela? É ela a Beatrice que você falou? - Ellie começou a ficar nervosa. Eu não conseguia sair do lugar.
Beatrice voltou de onde estava e se sentou no carro.
- Ben, entra em casa, por favor. - Ellie me pediu. - Eu preciso falar com ela.
Mesmo que eu quisesse fazer o que Ellie pediu, minhas pernas simplesmente não obedeciam. Minha voz também não conseguia sair e eu estava quase sem respirar.
- Ben, por favor - Ellie tentava se manter calma e não chorar. Se ela soubesse que minha vontade era me partir ao meio...
- Tudo bem então - Eu fui caminhando rápido para dentro de casa sem querer olhar para trás. A única coisa que eu consegui pensar foi em ligar para Kevin, que era o único que podia me ouvir sem me julgar agora.
Não tive nem tempo de me despedir do pessoal direito. Deixei minha mala na casa de Ellie e aproveitei a viagem pra pegar mais roupas. Ellie provavelmente foi a única a saber o horário que eu estava indo embora, por que eu precisava manter contato com ela.
Voltei no mesmo dia que fui. Saímos pela manhã e o trânsito não contribuiu muito com o meu retorno breve. Passei quase duas horas só indo. Minha mãe me fez almoçar em casa e meu pai tocou numa questão importante: como eu me sustentaria em Los Angeles? Tinha a questão da mesada, mas eu precisava de um novo emprego.
Quando cheguei na casa de Ellie, quase quatro da tarde, não encontrei-a em casa. Decidi que ia aproveitar o momento pra procurar algum lugar que quisesse alguém só meio turno. Ou seja, o impossível. Pensei em virar diarista, lavar carros, sei lá.
Ellie chegou à noite, no mesmo horário que eu cheguei da minha saga.
- Ben? Está chegando agora de La Palma? - Ela perguntou quando me viu sair do carro.
- Não, fui procurar um emprego. - Disse, acompanhando seus passos pelo jardim até a casa.
- E aí, achou alguma coisa? - Ela perguntou.
- Nada de meio período. - falei desanimado - Eu não quero ficar aqui como um agregado, preciso me bancar também.
- Eu acho que posso te ajudar. - Ellie disse, sentando-se no sofá.
- Mais do que você já está me ajudando? Acho um pouco impossível... - Falei, me sentando ao lado dela.
- Lembra daquele lugar em Santa Mônica onde alugamos as pranchas? - Eu assenti com a cabeça - Então, o dono, Jeremy, é meu amigo.
- Deu pra notar - eu disse.
- Não importa - Ela me cortou - Se você quiser, talvez ele te consiga uma ponta de meio período, dependendo do horário que você estude. Ele e a esposa estão precisando de um ajudante, então você pode ficar lá. Vou falar com eles.
Ellie pegou o celular e ligou pra o casal. Ela acertou com eles que eu iria lá no outro dia, e eu não podia recusar. No dia seguinte fui à Santa Mônica logo pela manhã, e falei com Jeremy.
- Você é aquele que veio aqui um tempo atrás e alugou uma prancha? - Jeremy perguntou.
- Sim.
- Ben, não é? Me lembro de você. Essa aqui é minha esposa Ruth.
- Olá Ruth, posso chamá-la assim mesmo? - perguntei.
- Tudo bem, sem problemas, você não precisa nos chamar de senhor e senhora. - Ruth respondeu.
- Então Ben, quando você está disponível?
- Por enquanto, seria melhor pra mim trabalhar pela manhã, mas em breve eu vou pegar meus horários na universidade, não sei como vai ficar ao certo.
- Está bem. Pagamos o salário mais a comissão por pranchas alugadas. Então, se esforce garoto. E saiba que só começamos às nove, por que a praia fica meio vazia antes disso.
- Pra mim está ótimo. Que dia posso começar?
- Como você provavelmente não se preparou pra ficar aqui já hoje, amanhã espero você.
- Muito obrigado Jeremy.
Dali por diante eu tinha uma certeza: pelo menos eu poderia pagar minha estadia na república e minha gasolina. Voltei pra casa e fiquei na minha função de antes, na cozinha. Como a casa estava mais vazia esses tempos, nem era tão difícil assim. Somente eu, Ellie, Natasha e Paula estávamos em casa. Gerald tinha viajado pra visitar a família, assim como os outros três moradores.
À tarde fomos ensaiar na casa do Dan. Ellie foi primeiro e eu fiquei surpreso em como ela e Noah estavam próximos. Pra quem tinha se conhecido no dia anterior, estavam muito cheios de assunto.
- Ben, eu te disse que Noah mora em frente à minha casa? - Ellie perguntou, quando me viu chegando.
- Não, não que eu me lembre. - respondi.
- Eu estou morando na casa da frente já há uns três anos. Me lembro quando Ellie chegou. - Noah disse.
- Eu morei ali antes Noah, antes de você chegar. - Ellie falou
- Imaginei isso, a maioria dos vizinhos te conhece... - ele comentou.
- Então, vamos ou não vamos ensaiar? - Perguntei. Eu realmente não estava gostando muito da aproximação de Ellie e Noah, mesmo por que ele parecia muito interessado nela.
Treinamos umas músicas à tarde, mas o ensaio foi meio desconcentrado, talvez por que Noah era novato e Josh estava ensinando as músicas em particular, ou talvez por que eu estava nos vocais. As músicas do Josh eram boas cantadas por ele. Então, resolvemos treinar mais Kisses of goodbye, porque todos estavam pegando o arranjo e eu saberia cantar melhor.
Comecei a trabalhar no dia seguinte e fui bem no aluguel das pranchas. Não parava de me perguntar o que Ellie estava fazendo enquanto eu estava fora e o que ela faria se eu estivesse em casa. Essas não eram coisas boas de se pensar, principalmente sabendo que o vizinho da frente estava cheio de interesse nela. E se eles estivessem treinando um baixo com bateria na garagem da casa dele? E se eles estivessem passeando juntos enquanto eu passava a manhã trabalhando na praia? Por que eu estava me perguntando isso? Ela devia estar treinando a bateria com o pessoal ou fazendo algo mais importante do que visitando o Noah. Ellie era uma boa garota, não tinha que ficar com ciúmes dela. E nós tínhamos uma sintonia tão boa que eu esquecia de tudo isso quando estávamos juntos.
No fim de semana eu também precisava trabalhar, mas minhas tardes eram livres. O pessoal foi pra a praia no sábado, enquanto eu trabalhava no aluguel de pranchas. Noah também foi. De qualquer modo, eu estava bem ali pra ver qualquer tentativa dele de ficar mais próximo da minha namorada.
O mais terrível foi ver que ele surfava. Pior, era um excelente surfista. Sempre que eu ia surfar com Ellie, ela ria mais dos meus caldos do que ficava me admirando. E, dessa vez, eu vi Ellie observando o Noah, e eu também estava fazendo isso. O cara era mesmo muito bom.
Não sei se minha expressão me denunciou, mas Ellie deu uma passada na loja pra me levar uma água de coco.
- E aí, curtindo muito o sol? - ela perguntou
- Não tanto quanto você. - respondi
- Calma, daqui a meia hora acaba o seu horário. Que tal pegar uma onda comigo e Noah? - Ellie sugeriu, toda animada.
- Não sei, prefiro ver você surfar. Além disso, eu não sou tão bom quanto ele. - Eu disse apontando para Noah, que acabava de pegar um tubo daqueles.
- Pra mim, você é ótimo. - Ellie disse e sorriu. Eu amava quando ela fazia essas coisas, mesmo que eu ficasse um pouco acanhado.
- Você que é ótima - eu disse e a beijei.
- Vocês vão mesmo ficar namorando aqui? Ben, esquece a Ellie e presta atenção nos clientes. - Jimmy falou quando os viu.
- Ops, acho que tenho que ir - Ellie falou. Eu estiquei o cabelo todo pra trás e soltei de vez, era meu sinal de que não queria fazer isso. Ellie entendeu - Só mais vinte e cinco minutos Ben, eu vou ficar te esperando.
- Está bem. - Falei a contragosto
Sorvi de vez a água de côco do canudo enquanto Ellie caminhava de volta para onde ela estava. Ela parou no meio do caminho, me deu tchauzinho e foi pra a água. Parecia que era um tipo de competição entre ela e Noah, pra ver quem era melhor.
- Sei como é isso. - Jeremy disse. Eu não entendi - Tive que me esforçar muito pra conseguir a Ruth. Sempre tinha concorrência.
- Imagino - eu disse
Jeremy tinha uns trinta e cinco anos, por aí. Ruth parecia ter uma idade próxima. A cor da pele e o cabelo loiro e comprido de Jeremy mostravam que ele tinha muito tempode surf. E Ruth surfava também, como Jeremy me contou. Eles não tinham filhos e cuidavam do negócio das pranchas já há uns cinco anos. Jeremy me disse que conheceu Ruth na praia e quando bateu os olhos nela, sabia que era com ela que ia casar. Me disse que Ruth tinha namorado quando eles se conheceram, mas ele foi tão insistente que não teve namoro resistisse. Jeremy me falou que brigou literalmente pela Ruth, mas que no fim de tudo, Ruth preferiu ficar com ele.
Quando bati os olhos na Ellie pensei "mas que gata" e não "é com ela que eu quero casar". Eu nem sequer achei que tinha chance com ela. A última vez que eu tinha sentido isso foi por... eu preferia nem me lembrar o nome dela. Ainda sentia alguma coisa lá no fundo, mesmo que Ellie fosse uma garota excelente e me deixasse muito feliz.
- Tudo bem, vou apoiar sua causa, pode pegar uma das pranchas emprestadas aqui, mas todo cuidado é pouco, está bem? - Jeremy ofereceu.
- Valeu mesmo Jeremy.
- Não esquece de devolver no fim do dia.
Então eu já sai da loja tirando a camisa e me jogando na água. Não podia perder muito tempo com aquele cara voando por ali.
- Viu que o tempo passou rápido? - Ellie disse quando me viu na água.
- Melhor, posso passar mais tempo com você. - Eu disse e beijei Ellie, bem ciente de que Noah estava bem ali do lado.
- Acho que vou pegar aquela ali - Noah disse apontando pra a onda que se aproximava. É, vai mesmo... pensei.
- Espera Noah! Nós vamos também, não é Ben? - Eu não estava nem um pouco afim de participar daquela competição, mas não tinha muita escolha.
- É, vamos.
E o dia na praia passou voando. Voando também passaram três semanas, desde que eu vim pra Los Angeles com minha mãe e Claire. Ellie me divertia muito, e nós saíamos quase todas as tardes pra passear. Assim eu conheci os melhores lugares de Los Angeles, longe de toda agitação turística. E Noah pareceu se tocar de que Ellie estava acompanhada, que não precisava muito dele ao redor. Ellie passava as manhãs lá na garagem com ele, mas era na casa da frente, eu chegava e os via conversar. Então, não tinha por que ter ciúme.
Eu e Ellie estávamos muito bem até uma manhã inesperada. Era um sábado, eu estava de folga, Ellie tinha me dito que uma prima dela vinha passar uns dias aqui. Até aí tudo bem. Eu não me lembrava de Ellie ter dito o nome da prima, não estava muito preocupado com isso, afinal, aquela casa estava sempre tão cheia de gente, na próxima semana receberíamos Kevin, Rebecca e Rachel, uma pessoa a mais, uma a menos, não ia fazer tanta diferença. Claro que Ellie tinha que dar atenção à visita, mas eu não estava mesmo me ligando muito com isso.
Sábado de folga é dia de lavar o carro e limpar a casa. Fizemos o multirão do fim de semana pra organizar nossa morada, cada um com suas atribuições. Quase meio-dia e a prima de Ellie não tinha chegado ainda, então resolvemos lavar os carros, o meu e o dela.
- E aí, vamos terminar a segunda etapa da limpeza? - Ellie disse, se referindo aos carros.
- Tudo bem, duvido que você seja mais rápida do que eu lavando a sua banheira.
- Banheira? Aquele carro é um clássico! - Ellie respondeu.
- Clássico? Eu ainda prefiro o meu carro.
- Covardia, hein?
Carregamos os baldes de água até o jardim e trouxemos os carros pra fora da garagem. Ellie ligou a mangueira. Parecia que ela sempre tinha que brincar com água.
- Vamos ver quem vai ser mais rápido depois da minha arma secreta. - Ela disse e ligou a mangueira na minha direção. Eu tentei me esquivar, mas Ellie ria tanto que eu comecei a rir também.
- Você que está fazendo covardia, não é? - Eu disse, pra ela e a segurei - Vamos, vamos lavar os carros, se não eles vão ficar aqui sujos e a gente vai gastar toda a água só brincando.
- Está bem, falou que nem meu pai agora. - Ellie disse
- Não, eu sou diferente.
- Diferente? De que jeito?
- Bom, acho que eu não preciso explicar, você entende.
- Sério? - Ellie sorriu - Vou te contar uma coisa - ela disse, esfregando o carro - eu sempre quis sair correndo e me jogar em cima de alguém que pudesse me carregar.
- É mesmo? - Ellie assentiu - E você quer que eu seja essa pessoa, acertei?
- Que namorado inteligente que eu arranjei...
- Pode vir!
Ellie veio correndo na minha direção e eu fui me preparando pra aguentar o impulso que ela estava tomando. Ela pulou em cima de mim e nós nos beijamos por um tempo. Aí, um carro parado na porta, buzinou. Achei meio estranho, mas imaginei que fosse a prima dela, então voltei a lavar meu carro. Ellie me puxou do meu afazer e eu vi saindo do carro Beatrice, linda com jeans e camiseta, levantando os óculos e sorrindo. Era quem eu menos esperava ver.
Beatrice me olhou e o sorriso que ela dava para Ellie sumiu.
- Ben? - Ela falou, parecendo não acreditar que eu estava ali.
- Beatrice... - Eu não conseguia aceitar que ela estava ali na minha frente - O que você...? - Eu nem sabia o que perguntar.
- Vocês se conhecem? - Ellie me perguntou. Eu e Beatrice permanecemos em silêncio. Eu não tinha o que dizer. - Meu Deus... É ela? É ela a Beatrice que você falou? - Ellie começou a ficar nervosa. Eu não conseguia sair do lugar.
Beatrice voltou de onde estava e se sentou no carro.
- Ben, entra em casa, por favor. - Ellie me pediu. - Eu preciso falar com ela.
Mesmo que eu quisesse fazer o que Ellie pediu, minhas pernas simplesmente não obedeciam. Minha voz também não conseguia sair e eu estava quase sem respirar.
- Ben, por favor - Ellie tentava se manter calma e não chorar. Se ela soubesse que minha vontade era me partir ao meio...
- Tudo bem então - Eu fui caminhando rápido para dentro de casa sem querer olhar para trás. A única coisa que eu consegui pensar foi em ligar para Kevin, que era o único que podia me ouvir sem me julgar agora.
Uau
ResponderExcluire o que o Kevin vai dizer????
Não percam o próximo capítulo!!!!
auhauhuahauhauhauahu