Capítulo 26 - POV Ellie part 3

Hoje era o dia de conhecermos os candidatos ao baixo da banda. Liguei para Ben pela manhã por que ele estava demorando pra chegar e a mãe dele atendeu. Era um pouco estranha a sensação de estar falando com alguém que não sabe direito quem é você, que você também não sabe direito quem é e como tratar, e que pode ser sua sogra.

- Alô? - A voz dela pelo menos era agradável, mas não parecia muito contente.
- Oi... Aqui é Ellie, por favor, posso falar com Ben? - Não sabia como ela ia reagir a isso, mas...
- Ele está dormindo, quer deixar algum recado?
- Não, muito obrigada.

Esperava que Ben não demorasse muito pra acordar, eu já estava saindo de casa. Fui para a casa do Dan e eu, ele e Josh ficamos lá ouvindo o pessoal que chegava. Foi uma negação. Parecia que poucos deles sabiam mesmo tocar alguma coisa, exceto um garoto frazino, acho que se chamava Larry, que foi um pouco melhor que a maioria. Ben me ligou, quase onze da manhã, inacreditavelmente calmo, mesmo apesar do horário. Ele perguntou se tinha vaga lá em casa pra mais alguns amigos que queriam nos ver tocar no festival.

- Você sabe que, enquanto tiver quartos em casa, aceitamos pessoas. É como uma pensão. Mas, mudando totalmente de assunto, quando você vai chegar aqui? Já são quase onze horas! - Eu disse
- Já estou de saída. Avisa ao Dan que minha mãe e minha irmã precisam ir comigo, pode ser? - Dei o recado a Dan que disse que tudo bem.

Ben chegou com a mãe e a irmãzinha alguns minutos depois que nos falamos. A mãe de Ben era alta, tinha os olhos verdes e o cabelo preto, na altura dos ombros, ondulado. Ben se parecia muito com ela. Já a irmã dele tinha olhos castanhos e o cabelo também escuro, com o jeitinho típico de garotas de doze anos, aparentemente não muito satisfeita de estar ali.

- Pessoal, essa é minha mãe Elizabeth e essa é minha irmã Claire. - Ben falou assim que chegaram.
- A que quebrou a guitarra? - Dan perguntou sobre Claire.
- Calma, ela não vai fazer isso agora, ela já tem 12 anos - Elizabeth disse.
- Sim, ela tinha 10 quando fez isso. - Ben falou.
- Gente, eu estou aqui... - Claire chamou atenção.
- Mãe, essa é Ellie, o que ficou com medo dos instrumentos é Dan, o que estava afinando o baixo quando chegamos é Josh. - Ben nos apresentou.
- É um prazer Senhora Smith. - Eu falei. A mãe dele me olhou como se estivesse me examinando.
- É mesmo, prazer em conhecê-la. - Dan falou - desculpa pela minha reação com os instrumentos, mas...
- Sim, eu sei, a imagem da Claire não é muito boa, não é? - Elizabeth disse o que provavelmente Dan havia pensado.
- Seja bem vinda Senhora Smith, a casa não é minha, mas, se quiser ouvir o som... - Josh disse
- Vou levá-la pra conhecer minha mãe, ela está mesmo esperando sua visita. - Dan falou
- Muito obrigada... Dan?
- Sim senhora.
- Não precisam me chamar de Senhora Smith, podem chamar de Elizabeth, ou Liz, eu não me importo. - Ela parou e me encarou - Bom gosto do meu filho... Foi um prazer conhecê-los, principalmente você Ellie. - Eu esperei não ter corado.
- Ah... Obrigada Senho... digo, Liz. - Fiquei um pouco confusa com a mudança de Senhora Smith para Liz.

Liz foi para a casa conhecer a mãe de Dan e Claire ficou conosco na garagem, olhou os instrumentos e se sentou no canto.

- Então, você é a irmãzinha dele? - Eu perguntei
- Sim, infelizmente.
- Infelizmente? Por que? Eu o acho um ótimo rapaz. - Sorri e pisquei para Ben, que nos observava no outro canto
- Claro que você acha ele ótimo, vocês estão namorando, não é? - Isso queria dizer que Ben já tinha comentado sobre o nosso assunto com elas. Eu dei sorriso de canto.
- Eu não sei... - Só respondi isso
- Ah, não vem com essa, eu vejo as coisas! - Aí sim eu ri quando Claire falou isso
- Ok... Eu não sei bem como lidar com irmãs mais novas por que eu sou filha única, mas nós somos as únicas meninas aqui, então podemos conversar um pouco.
- Sempre é bom. O que você toca? - Ela me perguntou
- Bateria.
- Uau! Mas que legal! Nunca conheci uma garota que tocasse bateria.
- Eu também não conhecia nenhuma até aprender a tocar. Já pensou em tocar algum instrumento?
- Não, já basta o Ben fazendo barulho lá em casa.

Conversamos um tempinho e Claire não parecia tão terrível como Ben pintava. Talvez tivesse a ver com ele ser o mais velho e todas essas coisas que eu não entendia muito bem, por que quando eu morava com meus pais só éramos nós.

Não demorou muito para que Ben voltasse ao hotel para levar as duas para almoçar. Eu dei uma passada em casa também, relaxei um pouco, afinal estava na casa do Dan desde nove da manhã. Quando voltei, vi uma fila começando a se formar na garagem, mais ou menos umas dez pessoas e sabia que tínhamos muito pela frente. Quando Ben chegou, quase trinta pessoas formavam a fila.

Começamos as audições. Verdade que eu não era a pessoa mais indicada para selecionar alguém quando se tratava de instrumentos de cordas, pra mim muitos foram bons, mas Ben e Josh não pareciam muito satisfeitos. Que eu tenha observado, umas dez pessoas poderiam tocar conosco, a primeira de todas, Amanda Kennedy, tocou muito bem e depois uns três caras, e mais uma menina. A todos Dan dizia que esperasse, que podíamos ligar, mas eu não achava muito certo isso. Alguns deles nós definitivamente não iríamos ligar.

Quase perto de terminar a fila, um rapaz alto, de pele avermelhada e cabelo preto, veio se apresentar. Eu olhei pra ele e pensei "Meu Deus, que lindo". Ele era muito lindo. Eu tinha a impressão de que o conhecia de algum lugar.

- Diz aí, qual o seu nome? - Dan perguntou.
- Noah. Noah Brooks. - Ele respondeu. Tinha uma voz grave, imponente, mas ao mesmo tempo suave, não sei bem explicar.
- Noah? Nome bíblico. Bem exótico. - Eu falei. É, eu não me lembrava de conhecer nenhum Noah...
- Então Noah, pode mostrar pra a gente o que você sabe fazer? - Josh perguntou.
- Vou começar com o que eu acho mais fácil, pode ser? - Ele perguntou.
- Faça como quiser Noah. - Ben falou.

Ele começou tocando Billie Jean, de Michael Jackson, que por sinal muitos tinham tocado. Na verdade, eu achava que muitos fãs de MJ resolveram aprender baixo depois dessa música.

- Está bem Noah, passa do fácil pra o difícil, a gente já ouviu muito isso hoje. - Dan falou. Noah sorriu. Ele tinha um sorriso perfeito. O contraste da pele com o sorriso era inexplicavelmente bonito.
- Ok, ok, vou pra alguma coisa que eu gosto mais. Vocês conhecem Jaco Pastorius? - Noah perguntou
- Eu conheço, muito bom. - Ben disse.
- Vou tocar "Come on, come over", é fácil também, mas é bem legal - Ele continuou.

Eu achei a musiquinha um pouco repetitiva e acho que era uma opinião geral. Noah deve ter percebido.

- Está bem, vou tentar o difícil. Qual de vocês toca guitarra? - Noah perguntou.
- Eu toco - Ben respondeu.
- Sabe Maxwell Murder do Rancid? - Eu não conhecia...
- Sei. - Ben disse. Parecia que tínhamos duas pessoas muito cheias de cultura aqui.
- Pode me acompanhar? - Isso eu esperei pra ver.

A música era muito legal e eles dois tocando ficou excelente. Na verdade, eu nunca tinha visto duas pessoas que não se conheciam tocarem tão bem uma música que nunca tinham ensaiado juntas. Aquele cara tinha sido o melhor de todos até o momento. E eu achava difícil achar alguém melhor.

- Você demorou muito pra tirar isso? - Ben perguntou.
- Mais de uma semana cara, é muito rápida. - Noah respondeu.
- É fantástica! - Eu disse
- Você toca mais alguma coisa? - Josh perguntou.
- Ah cara, ele foi muito bem, não é? - Dan disse
- Não, tudo bem, eu posso tocar um não tão difícil e outro tecnicamente difícil. - Wow, ele ainda tinha alguma coisa mais difícl pra tocar?

Ele tocou uma outra música que eu não lembro bem o nome e "School days", que era super difícil, na versão de Stanley Clark. E foi muito bom nas duas.

- Noah, eu achei que você tem muito talento. E, pra mim, foi o melhor que ouvimos, então, espera que eu acho que vamos te ligar. - Ben disse.
- Talvez Ben esteja sendo precipitado Noah. - Josh disse - Mas eu gostei de ouvir você tocar. - Quem não tinha gostado?
- Obrigado pessoal, eu vou esperar vocês ligarem. Foi um prazer conhecer vocês. - Noah se despediu e foi embora.

Eu ainda estava com a impressão de que conhecia Noah de algum lugar. Depois das audições, Ben voltou ao hotel e eu fui pra casa. Eu estava sem carro, fui caminhando, e quando cheguei na entrada de casa, Noah estava do outro lado da rua, com um cachorro. Ele sorriu pra mim.

- Você está me seguindo? - Perguntei e não consegui não sorrir de volta. O sorriso dele era convidativo, talvez todo mundo sorrisse também.
- Não, eu moro aqui. - Ele respondeu do outro lado.
- Mora? - Eu não me lembrava de ter um vizinho que nem aquele. Então era por isso que eu achava que o conhecia. Ele atravessou a rua.
- Sim, moro na casa em frente à sua. - Em frente à minha casa?
- Desde quando?
- Tem uns três anos.
- Por que a gente nunca se falou então? - Era estranho ter um vizinho bonito, que tocava baixo, morando em frente à minha casa, mais ou menos da minha idade, e nunca ter falado com ele.
- Eu não vejo muito você em casa. - Era verdade, quando não estava na escola, estava ensaiando, surfando. E eu nunca fui muito próxima dos meus vizinhos.
- Legal que você mora aí. Meio inusitado. - Ele ficou parado me olhando. O cachorro começou a puxar a coleira. - Você precisa ir, não é? Foi legal ver você de novo.
- Pra mim também.
- Tchau Noah.
- Tchau Ellie. - Ele saiu andando com o cachorro e eu fui em direção à porta de casa.

Estava colocando a chave na porta, quando o ouvi me chamar de novo.

- Ellie!
- Sim?
- Vai fazer alguma coisa amanhã de manhã? - Noah perguntou.
- Nada, eu acho.
- Independente de ficar na banda de vocês ou não, quer dar uma volta comigo? Sei lá, pode vir aqui em casa, se quiser.
- Humm... - Pensei em Ben. Será que ele acharia ruim? Eu achei que não. - É, pode ser. Passe aqui amanhã, ou me chame do outro lado. Se eu não estiver fazendo nada...
- Ah, ok. - Ele parou um tempo e eu fiquei esperando que ele dissesse mais alguma coisa. - É. Então, tchau Ellie.
- Tchau Noah.

Eu entrei em casa e fiquei me perguntando por que eu não tinha conhecido Noah antes. Por que eu era assim desatenta? O mais interessante era que a janela do meu quarto dava certinho pra a casa dele e eu me lembrava muito vagamente daquele rosto.

Na manhã seguinte, Ben deu uma passada rápida na minha casa e deixou suas malas. Ele foi levar Liz e Claire em casa e eu fiquei mesmo sem ter o que fazer. De tarde, parei uns instantes na janela do meu quarto e fiquei olhando a casa do outro lado, ainda cheia de perguntas. Então, Noah apareceu na janela e sorriu. Ele acenou lá do outro lado e eu fiquei tipo "É comigo?". Acenei também. Ele escreveu "Oi" num papel e mostrou lá do outro lado.

Eu procurei algum caderno e uma caneta pra riscar uma resposta. "Oi" mostrei o papel.
"Está fazendo alguma coisa?" ele escreveu. "Não" escrevi e mostrei. "Pode sair agora?" ele mostrou lá do outro lado da rua. "Sim" escrevi no outro lado da folha. Ele sumiu da janela. Eu me sentei na cama uns segundos e fiquei sem entender por que ele tinha sumido da janela. Daí, ouvi a campanhia tocar.

- Ellie! - Paula me gritou - Tem alguém esperando aqui embaixo!

Eu desci do jeito que eu estava e vi Noah na porta. Paula me deu um sorriso daqueles, bem com cara de "Vai fundo amiga!". E eu pensei no Ben.

Saí com Noah sem um destino certo. Ele resolveu que íamos tomar um sorvete. Me colocou no carro e fomos conversando no caminho.

- Você surfa, não é Ellie? - Ele perguntou.
- Sim. Como você sabe?
- Eu sou seu vizinho, te vejo sair com a prancha.
- Ah, legal.
- Eu também surfo.
- Sério?
- Sim. Um dia desses podemos surfar juntos.
- É - parei um pouco - Ben vai gostar de ir com a gente. - Ele precisava saber que eu tinha namorado, pelo menos.
- Ele surfa também?
- Está aprendendo. Eu estou ensinando ele a surfar.
- Legal. Há quanto tempo que vocês estão juntos? Eu me lembro de tê-lo visto aqui algumas vezes um mês atrás. - Quanto ele sabia da minha vida? Ele ficava me observando?
- É, não tem muito tempo. Conheci Ben por causa da banda.

Eu conversei muito com Noah. Ele era um garoto divertido e tinha umas conversas legais. Por tudo que ele falou sobre mim, deu pra notar que ele me observava muito. Mas, o que ele viu em mim pra ficar dedicando tanto tempo a olhar a minha vida? Umas três e meia, quase quatro horas, voltamos pra casa. Quando eu estava atravessando a rua, Ben estava chegando também.

- Ben? Está chegando agora de La Palma? - Perguntei.
- Não, fui procurar um emprego. - Ele respondeu e fomos caminhando pra dentro de casa.
- E aí, achou alguma coisa?
- Nada de meio período. Eu não quero ficar aqui como um agregado, preciso me bancar também.
- Eu acho que posso te ajudar. - Falei, me sentando no sofá.
- Mais do que você já está me ajudando? Acho um pouco impossível...
- Lembra daquele lugar em Santa Mônica onde alugamos as pranchas? - Ele assentiu - Então, o dono, Jeremy, é meu amigo.
- Deu pra notar
- Não importa. Se você quiser, talvez ele te consiga uma ponta de meio período, dependendo do horário que você estude. Ele e a esposa estão precisando de um ajudante, então você pode ficar lá. Vou falar com eles.

Liguei pra Jeremy e Ruth e falei com eles sobre a possibilidade de Ben trabalhar com eles. Eles aceitaram e Ben foi à Santa Mônica no dia seguinte. À tarde nós fomos ensaiar. Josh chamou Noah pra o ensaio. Eu fui junto com ele e Ben foi um pouco mais tarde. Quando ele chegou, fiquei me perguntando se ele não ficaria zangado por que eu estava conversando com Noah.

- Ben, eu te disse que Noah mora em frente à minha casa? - perguntei
- Não, não que eu me lembre. - ele disse.
- Eu estou morando na casa da frente já há uns três anos. Me lembro quando Ellie chegou. - Noah disse.
- Eu morei ali antes Noah, antes de você chegar. - eu disse.
- Imaginei isso, a maioria dos vizinhos te conhece... - Noah comentou.
- Então, vamos ou não vamos ensaiar? - Ben perguntou

Ensaiamos muito a música do Ben, e Noah pegou até rápido o que Josh ensinava. No fim de semana eu, Noah, Josh e Dan fomos à praia e Ben estava lá trabalhando. Na verdade, esse foi o dia que Noah me chamou pra surfar, mas pra que não ficasse chato ir só com ele e encontrar Ben lá, resolvi chamar os outros garotos.

Noah surfava muito bem. Na verdade, ele tinha todo um impacto na praia. Ben era lindo, tinha um estilo que me agradava muito, nadava bem, e tinha um corpo legal. Mas Noah além disso era meio musculoso, não parecendo um fisioculturista. Ele era lindo sem camisa também. E eu fiquei bem sem saber o que pensar. Pra piorar minha situação, Noah surfava super bem. Se ele se esforçasse um pouco mais, podia ser um Andy Irons da vida. Nós ficamos disputando as melhores ondas, mas eu percebi que Ben não estava muito feliz lá na loja.

Eu deixei a prancha perto dos meninos, comprei uma água de coco e fui levar pra ele. Faltava pouco tempo pra que ele pudesse sair e ficar um pouco comigo na água. Conversamos um pouco, mas quando Ben me deu um beijinho só, Jeremy apareceu e perguntou se íamos ficar namorando ali. Tudo bem, era o trabalho dele. Eu voltei pra a água e fiquei esperando o horário dele terminar.

Fiquei brincando um pouco com as ondas e com Noah, e Ben chegou quando eu menos esperei, com prancha e tudo.

- Viu que o tempo passou rápido? - eu disse
- Melhor, posso passar mais tempo com você. - Ele disse e me beijou.
- Acho que vou pegar aquela ali - Noah apontou pra uma onda que estava chegando.
- Espera Noah! Nós vamos também, não é Ben?
- É, vamos. - Ben respondeu, claramente sem querer ir.

Nós ficamos ainda um bom tempo na praia. Mesmo que nesse dia Ben parecesse que não estava gostando muito da minha aproximação com Noah, ele começou a aceitar bem depois. Como ainda estávamos de férias, as tardes ficavam livres pra que pudéssemos passear, mesmo que algumas delas ainda usássemos para os ensaios.

Umas duas ou três semanas passaram e uma prima minha, Beatrice, me ligou do nada um desses dias. Achei interessante os nomes dela e da garota que Ben gostou serem o mesmo, mas considerei como pura coincidência. Beatrice, minha prima, disse que esteve na casa da minha avó por esses tempos e conseguiu meu número. Nós fomos grandes amigas na infância, mas eu mudei pra Boston e perdi o contato. Ela combinou que viria me visitar no fim de semana e ia aproveitar pra conhecer Los Angeles.

Achei legal a iniciativa dela de reafirmar os laços familiares, procurar as velhas amizades, ou talvez eu só quisesse ver como ela estava. Não nos víamos já há uns, sei lá, cinco anos ou mais. Fiquei a manhã de sábado toda esperando que ela chegasse enquanto arrumava a casa com o resto do pessoal. Ela me ligou algumas vezes, dizendo onde estava e perguntando onde devia passar, mas parecia que não chegava nunca.

Quando acabamos de limpar a casa, eu e Ben fomos lavar nossos carros. Eu gostava desses momentos em que eu e Ben fazíamos alguma coisa juntos, principalmente se tinha água no meio. Me lembrei do dia que Ben chegou. Só que esse dia tinha uma vantagem, Ben tinha roupas em casa.

- E aí, vamos terminar a segunda etapa da limpeza? - perguntei
- Tudo bem, mas eu duvido que você seja mais rápido que eu lavando a sua banheira.
- Banheira? - Ninguém tinha o direito de chamar meu carro de banheira! - Aquele carro é um clássico!

Claro que Ben apelou, dizendo que o carro dele era melhor.

- Vamos ver quem vai ser mais rápido depois da minha arma secreta. - Liguei a mangueira na direção dele.
- Você que está fazendo covardia, não é? - ele falou, me segurando - Vamos, vamos lavar os carros, se não eles vão ficar aqui sujos e a gente vai gastar toda a água só brincando.
- Está bem, falou que nem meu pai agora. - Eu disse
- Não, eu sou diferente. - Humm... Diferente?
- Diferente? De que jeito?
- Bom, acho que eu não preciso explicar, você entende. - ele respondeu. Ah, Ben...
- Sério? - eu sorri - Vou te contar uma coisa - comecei a esfregar o carro - eu sempre quis sair correndo e me jogar em cima de alguém que pudesse me carregar.
- É mesmo? - ele perguntou e eu assenti com a cabeça - E você quer que eu seja essa pessoa, acertei? - Isso era óbvio
- Que namorado inteligente que eu arranjei...
- Pode vir!

Tomei impulso e me joguei em cima dele. Ele me beijou e eu estava achando legal a nossa brincadeira com a água, só que um carro parado na porta buzinou. Era beatrice, que continuava com a mesma cara de uns anos atrás. Ela levantou os óculos escuros que usava e sorriu.

- Até que enfim você chegou Beatrice! - Eu disse, sorrindo também e indo na direção dela.

Ben continuou lavando o carro e eu puxei-o pelo braço pra que ele conhecesse minha prima. Só que os dois tiveram uma reação que eu nunca esperei.

- Ben? - Beatrice falou
- Beatrice... O que você...? - Ele ficou mudo. Parecia que nós três estávamos absurdamente confusos.
- Vocês se conhecem? - Eu perguntei a Ben. Ele ficou quieto. Mas era claro que eles se conheciam. Eu não podia acreditar que ela era a Beatrice que ele tinha falado - Meu Deus... É ela? É ela a Beatrice que você falou? - Comecei a ficar nervosa.

Beatrice voltou andando para o carro e Ben ficou lá parado, totalmente sem ação.

- Ben, entra em casa, por favor. - Era a única coisa que eu podia pedir ali. Ele continuou estático. - Ben, por favor - Comecei a querer chorar de tão nervosa, mas tentei aparentar calma.
- Tudo bem então - Ele foi andando pra casa. O que eu ia fazer? Primeiro, falar com Beatrice.

Ela estava sentada no banco do carona, chorando, e uma música tocando. A letra da música fazia parecer que aquela música tinha sido escolhida para o fundo. Eu desliguei o rádio.

- Beatrice... - Eu me dirigi a ela - Eu não sabia que era você. - Foi o que eu pensei em dizer.
- Tudo bem, não vou ficar aqui. - Ela respondeu, ainda chorando.
- Mas você não tem onde ficar, você acabou de chegar.
- Eu não sei Ellie, eu não posso ficar aqui, não hoje.
- Vamos dar uma volta, esfriar a cabeça, depois a gente volta e dorme. Amanhã as coisas ficam bem.
- Não termine... - Ela respirou fundo - Não termine com ele por minha causa, certo? Eu que estou errada. - O problema era que não tinha niguém culpado nisso tudo. Nem eu, nem ela, nem Ben.
- Não, você não está errada. Pode me dar as chaves do carro? Acho que você não está em condições de dirigir. - Eu também não estava, mas com certeza estava melhor que ela.

Sequei a lágrima que começou a surgir, fechei a porta do lado dela, me sentei no banco do motorista e fui dirigindo, totalmente sem destino. Beatrice estava tentando se controlar do meu lado, e eu também. Mas, quem poderia imaginar? Justamente minha prima ser a Beatrice que Ben era totalmente apaixonado! Na minha cabeça passavam mil coisas. O que fazer dali por diante? Como resolver aquilo? Será que eu devia desistir? Passei na frente da casa de Noah e fiquei pensando que talvez ele fosse uma boa pessoa pra ouvir os meus problemas. Na minha cabeça, All I need não parava de tocar...

Do you know where your love is? Do you think that you lost it? You felt it so strong, but nothing's turned out how you wanted...


* Tradução - Você sabe onde seu amor está? Você acha que o perdeu? Você sentia isso de um jeito tão forte, mas nada ficou do jeito que você queria

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