Capítulo 28

A agonia na minha cabeça estava me deixando tonto. Me arrastei pelas escadas pra procurar o celular no quarto. Eu não sabia bem o que ia acontecer dali em diante, mas estava tão nervoso e atônito que Kevin talvez fosse a única pessoa disposta a me ajudar.

Antes, dei uma olhada no jardim pelo quarto de Ellie e vi as duas saindo de carro. Não sabia onde elas iriam, talvez aquele fosse o momento pra pensar onde eu ia. Disquei o número de Kevin, que demorou muito pra atender. Mas eu não desisti. Ele atendeu:

- Oi Ben! Desculpa por que eu não atendi logo, esqueci o celular no silencioso. E aí? Como você está?
- No momento mais difícil da minha vida até agora. - Isso que eu podia responder.
- Como? Por que?
- Eu vi Beatrice.
- Ah não. Deus, como foi isso? Bem que ela falou que queria te ver. Como ela te achou?
- A questão não é essa Kevin. Beatrice e Ellie são primas.
- O que? A Ellie que ela comentou no refeitório... Naquele dia... É A SUA NAMORADA?
- Sim. - Eu respondi, ainda querendo aceitar isso.
- O que você vai fazer agora?
- Eu não sei!! Eu definitivamente não faço a menor ideia! - Meu maior problema com Kevin era que quando eu precisava que ele me desse alguma solução ele só me enchia de perguntas.
- Onde elas estão agora?
- Não sei, saíram de carro aqui e eu estou sem saber o que fazer. Estou preocupado.
- Calma cara. Só me responde uma coisa: você ainda gosta de Beatrice, não é?
- Kevin, pra você ter ideia, eu comecei a tremer quando ela apareceu aqui na porta. Eu pensei que nunca mais ia sentir isso na vida! E sabe o que é o pior? Ela chegou bem quando eu e Ellie estávamos juntos.
- Se beijando?
- Você ainda precisa perguntar?
- Meu Deus. Ela deve ter ficado horrível depois disso.
- EU estou horrível!
- Você não sabe o que fazer, não é? Cara, que fria. Você quer terminar tudo com Ellie?
- Kevin, eu amo Beatrice. É chato dizer isso, mas é a verdade. Só que Ellie é tão agradável, linda, inteligente e mais uma série de coisas boas que eu posso perder a tarde alistando.
- Sim, mas é com ela que você quer ficar o resto da vida? - Eu não sabia. Mesmo conhecendo Ellie e sabendo todas as suas qualidades, eu simplesmente não tinha certeza se era com ela que eu queria ficar.
- Eu ainda não sei como responder isso.
- É melhor você pensar. Elas são mulheres, vão se unir e deixar que você se dê mal sozinho, está entendo? - Lá vinha ele com as filosofias... - Você precisa decidir qual das duas vai querer.
- E se eu dissesse que queria misturar as duas e transformar em uma só, pra essa ficar comigo?
- Que eu saiba, isso ainda é impossível. Pense e decida. Quem você ama mais? - Se Kevin soubesse o quanto ele tinha complicado minha cabeça com essa pergunta ele não teria feito. Eu sabia que amava Beatrice. Isso era evidente. Mas eu não queria magoar Ellie, então resolvi deixar as coisas como estavam. Só não podia ficar em casa essa noite, o clima não ia ficar bom.
- Eu não sei Kevin. Só não posso ficar aqui hoje. Vou ver se ligo pra Josh ou Dan, ver se dá pra passar a noite na casa de um deles. Não sei, vou resolver.

Eu dei um jeito de falar com Josh, explicar pra ele rápido o que estava acontecendo.

- Ben, vem aqui em casa, pelo menos hoje você pode dormir aqui, a gente conversa, você me explica isso melhor. Agora, não vai ser a coisa mais confortável do mundo, estamos nos organizando pra a mudança, dá pra entender, não é?

Eu fui para a casa de Josh. Eu já tinha conhecido os pais dele rapidamente um dia, mas ainda era meio estranho ir dormir lá. Eles foram bem cordiais comigo. Josh tinha um irmão mais novo, Eric, de mais ou menos nove anos, que ficou muito feliz de receber visita.

- Olá Ben! Sou o Eric. Muito bom que você veio aqui hoje. Vamos poder jogar videogame e assistir filmes de terror...
- Boa ideia. É um prazer conhecê-lo Eric - eu disse
- Eric, Ben não está muito bom pra fazer tudo isso hoje. Talvez ele venha aqui outro dia, antes de nos mudarmos. - Josh disse.
- Então está bem Ben. Outro dia a gente combina.

O irmão de Josh era tudo que eu gostaria que minha irmã fosse: bem educado, cordial. Ele respeitava Josh! Nem eu sonho eu podia pensar em Claire me respeitando de alguma forma. Como ainda estava cedo, quase duas da tarde talvez, não dava pra ir dormir, então comecei a contar a Josh qual era o problema. Ele foi uma ajuda tão grande quanto Kevin.

- Então quer dizer que elas são primas... Onde você foi se meter? - Josh perguntou.
- Eu simplesmente não sabia Josh.
- Eu só espero que você não magoe Ellie.

Ótimo. Um pergunta "Quem você ama mais?" e o outro diz "Só espero que não magoe Ellie". Eu sabia que não devia magoar Ellie. Por outro lado, era difícil não fazer isso com Beatrice tão perto.

Passei a noite e o início da manhã na casa de Josh. Como o irmão dele queria, aproveitamos a noite pra jogar videogame e assistir esses filme idiotas de terror. Mesmo tentando me distrair, a questão de quem escolher não me saía da mente.

Eu voltei pra casa no dia seguinte. Os carros de Ellie e Beatrice estavam estacionados, mas nenhuma das duas estava em casa. Paula me disse que elas tinham saído com Noah. Eu não tinha direito de sentir ciúmes da relação de Ellie e Noah, principalmente por que eu estava com ela e pensando na prima dela. O que acontecesse dali por diante seria minha culpa. O problema foi que eu comecei a pensar se Ellie não tinha feito isso pra que Beatrice e Noah se conhecessem melhor. Nessa hora, não teve auto controle certo. Eu já tinha perdido Beatrice uma vez, por que aquele Noah tinha que aparecer justamente agora?

Fiquei em casa a tarde toda, esperando que elas chegassem. Minha cabeça tinha uma série de perguntas que eu não conseguia parar de fazer. Por que tudo tinha se enrolado tanto? Por Ellie tinha que ser justamente prima de Beatrice? A tarde foi passando e minha cabeça foi esfriando. Quando elas chegaram, à noite, eu já não tinha nada pra dizer a ninguém. Decidi que, se eu estava com Ellie continuaria com ela, não importava se Beatrice ficaria com Phil, Noah, ou quem ela quisesse.

Beatrice nem falou comigo direito, subia as escadas e se confinou no quarto. Tudo bem, eu tinha escolhido Ellie. E quantas vezes eu tive que suportá-la com Phil, pra todos os cantos?

- Ben... Pensei que não ia te encontrar em casa ainda. - Ellie disse, quando me viu.
- Eu passei a tarde aqui. Pode conversar comigo lá fora? - Perguntei
- Está bem.

Nos encostamos no Cutlass pra conversar um pouco.

- Onde você dormiu ontem? Fiquei apreensiva. - Ellie perguntou
- Fui para a casa de Josh. Ellie, eu pensei muito esta tarde. Você tem sido uma garota excelente comigo, todo este tempo. Eu não posso simplesmente dizer que acabou tudo. Acho que podemos superar isso.
- Acha que você pode superar isso Ben? Eu vi como você ficou abalado. Me pergunto se não sou eu o empecilho da história de vocês.
- Os melhores momentos da minha vida eu venho passando com você. Minha cabeça ainda está muito confusa, mas acho que você pode entender isso.
- Pra mim Ben, a escolha é sua. Dependendo do que queira, eu vou ter que aceitar, sendo ao meu favor ou não. - Ellie não parecia muito triste ou magoada, mas tão confusa quanto eu ou Beatrice diante disso tudo.

Eu senti uma vontade enorme de abraçá-la pra mostrar que eu estava ali, com ela, assim como ela ficou comigo, mesmo que de certo modo eu pertencesse a outra pessoa. Ellie reagiu ao meu abraço como sempre, mesmo antes de Beatrice aparecer, mesmo com a minha reação depois disso. Ellie era tão perfeita pra mim. Por que alguma coisa aqui dentro insistia pra que eu quisesse Beatrice?

Eu resolvi ignorar essa parte que gritava tanto o nome de Beatrice na minha cabeça. O beijo que Ellie me deu depois disso foi confortante e calmo, como se ela estivesse dizendo "estou aqui para o que der e vier".

Eu me aprontei para dormir pensando em tudo o que tinha acontecido nesses dois dias, mas não consegui pegar no sono. Como de costume, desci pra tomar um leite quente, como minha mãe fazia quando estava sem sono.

Quando terminei de tomar o leite, vi Beatrice na cozinha. Eu comecei a sentir todas as coisas que eu sentia quando ela passava por mim no corredor da escola. Eu não ia ignorá-la.

- Oi. - Eu disse
- Oi. - Ela respondeu. Soou como música nos meus ouvidos. A voz dela era tão doce.
- Sem sono? - Perguntei.
- É.
- Eu também. - Já que estávamos conversando, precisava falar outra coisa - Sempre gosto de tomar leite quando estou sem sono.
- Humm... Legal.
- Por que não experimenta o mesmo?
- É, pode ser.
- Vou subir, tentar dormir. - Talvez não tivesse mesmo o que conversar com ela.
- Está bem, boa noite.
- Boa noite. - Ela era tão linda também. Por que eu ainda estava aqui? - Se quiser, posso fazer um chá. Ellie gosta de ver filmes quando está sem sono. - Ela tinha que saber que eu não estava paquerando, nada disso, eu tinha namorada. Não estava ali só pra vê-la mais um pouco, estava tentando ser um bom anfitrião, só isso.
- Não, não precisa do chá.
- Se quiser ver um filme, posso te mostrar onde estão os melhores. - se quiser que assista com você também pensei. Não devia pensar isso.
- Não, muito obrigada - Ela começou a sorrir. Que sorriso lindo... Eu não podia ficar pensando essas coisas. Ellie também tinha um sorriso lindo, não tinha?
- Do que você está rindo? - Perguntei, sem conseguir não rir em resposta.
- Nada.
- Então, agora vou mesmo. - Se eu passasse mais um minuto ali, coisas piores do que os pensamentos podiam acontecer - Boa noite.
- Boa noite.

Eu me deitei pra dormir, mas foi um suplício. Peguei no sono e sonhei com Beatrice a noite toda. Acordei com uma sensação de culpa...

A semana foi passando na rotina de sempre. Às vezes, nem parecia que Beatrice estava lá. Não sei se ela estava evitando me ver, talvez fosse isso, mas eu comecei a sentir falta. Como eu tinha feito minha decisão, ia trabalhar todas as manhãs e às tardes passava com Ellie, intensificando os ensaios, já que o festival seria no sábado seguinte. Josh vinha ensaiando com a gente, como uma despedida, então tínhamos duas guitarras nas músicas, uma complementando a outra e o baixo de Noah dando um toque. Ellie passava a maior parte da manhã com Noah, mas eles tinham se tornado amigos, eu não me importava muito com isso. Ellie sempre chamava Beatrice para os ensaios, mas ela estava tão empenhada em conhecer Los Angeles, e eu dava graças a Deus por isso.

Só que um dia ela resolveu ir e, nesse dia, Josh ficou sem tocar pra fazer companhia a ela. Então Dan pediu pra tocarmos Kisses of Goodbye. Eu realmente não estava disposto a tocar o que eu tinha escrito pra ela. Insisti que poderíamos ensaiá-la depois, mas não houve jeito.

Quando o teclado começou, eu fui ficando nervos. Acalme-se Ben, é uma música. Ela vai saber de tudo, mas já passou... Repeti isso como um mantra em minha mente, pra ver se conseguia me concentrar e esquecer que Beatrice estava ali. E a música fluiu, muito melhor do que qualquer outro ensaio. Beatrice nem teve reação. Comentou alguma coisa com Josh e depois do ensaio fomos pra casa.

Achei estranha a forma como ela se comportou, com uma música evidentemente feita pra ela. No outro dia, depois do trabalho, Beatrice foi me procurar. Eu não sabia o que ela queria me dizer, então me preparei para o pior.

- Preciso falar com você - Ela falou.
- Eu preciso almoçar, quer comer alguma coisa aqui perto? - perguntei.
- Contanto que possa falar com você, tudo bem.

O que ela queria tanto falar? Eu ficava nervoso somente com a presença dela, quanto mais com ela falando que tinha algo pra me dizer. Paramos pra comer num lugar perto da loja.

- Então, o que quer falar? - Já não estava mais aguentando de curiosidade.
- Ontem, no ensaio, eu percebi que aquela música era pra mim. Aquilo é o que você sente até hoje ou você escreveu por que estava num momento de raiva? - Ela perguntou.
- Entenda como quiser Beatrice. - A garçonete chegou, trouxe o pedido e eu comecei a comer. Ela nem tocou no prato. - Não vai comer? - perguntei

Ela começou a brincar com a comida, comer um pouquinho aqui, outro ali, talvez esperando que eu terminasse. Quando eu terminei ela voltou a falar.

- Podemos fechar a conta e sair pra conversar?
- Você mal tocou na comida - falei.
- Eu não consigo comer direito quando estou engasgada com outras coisas.

Engasgada? O que ela queria dizer com isso? Pedi a conta e fui com ela a um lugar mais recanteado da praia.

- Então, o que você quer saber? - Ela estava fazendo tanto mistério...
- Eu estou muito confusa com tudo isso. Você ainda me ama Ben? - Porque ela tinha que perguntar justamente o que eu não queria responder?
- Eu já te disse isso uma vez. - Afinal, aquilo era óbvio.
- Antes de começar a namorar minha prima. - Tocando em outro assunto que não era o melhor. E falou ressentida.
- Você fala parecendo que eu te traí. Não é bem assim que as coisas funcionam Beatrice. - Afinal, quando eu fui embora, ela estava com Phil, eu tinha o direito de namorar quem eu quisesse.
- Você ainda está muito magoado, não é? - Isso era relativo.
- Por que estamos falando disso? - Não era agradável, será que ela podia calar a boca e me deixar ir pra casa?
- Porque você e Ellie estão juntos mas você nem sabe se gosta mesmo dela. - Por essa eu não esperava. Ela só disse o que eu vinha pensado nos últimos tempos. Fiquei pasmo olhando pra ela. - Eu não vou forçar você a fazer nada Ben. Eu só tenho um monte de coisas pra te dizer. Me desculpe. Me desculpe, está bem? Eu sou uma idiota. Eu pensei que estava fazendo o melhor quando comecei a namorar o Phil. - O melhor? Desde quando?

Ela continuou falando:

- Na verdade, você nunca demonstrou que gostava de mim de verdade, nunca me disse nada, nunca me deu uma certeza. Queria que eu adivinhasse? - Ela estava repetindo tudo o que Ellie me disse quando contei pra a história. Então eu era o culpado? - Eu nunca teria nada com Phil se eu soubesse que ele era tão terrível. - Era lógico que ele era terrível. - Tem coisas que você não sabe sobre a história. Antes do acidente, Phil disse que eu ficaria com ele de qualquer jeito, ou ele ia fazer alguma coisa com você. - Realmente, eu não sabia aquilo - Eu terminei tudo, ele foi te procurar e bateu o carro. - Até aí eu ainda não tinha ouvido nenhuma grande novidade. O que veio depois me deixou abalado.

Beatrice continuou:

- Ben, eu só quero que você entenda que eu não consegui parar de pensar em você, nem quando você ficou fora. - Por que ela veio aqui me dizer isso? Eu estava com Ellie! Eu não queria voltar a sofrer, ela não podia fazer isso comigo - E eu vim aqui visitar Ellie pensando que ela poderia me ajudar a encontrá-lo. Eu nunca pensei que vocês estariam namorando. Eu sei que eu te magoei muito e que fui errada muitas vezes, então estou te deixando livre pra ficar com Ellie, se você quiser. Mas se quiser ficar comigo, eu estou esperando, em La Palma ou aqui em Los Angeles, ou em qualquer outro lugar do mundo. - minha cabeça sacudia a cada frase que ela dizia - E eu digo isso por que minhas pernas tremem, minhas mãos ficam geladas e eu sinto mais um monte de coisas quando eu te vejo. E você não faz idéia de como meu peito dói quando vejo você e Ellie juntos.
- Claro que eu sei. - eu disse - Eu passei por isso, com você e Phil. - E sabia bem que dor era aquela que ela se referia.
- Eu sei que posso estragar totalmente sua vida e você pode se arrepender completamente se escolher ficar comigo. Ellie é a melhor escolha. Mas eu não podia deixar de expôr o que eu penso.
- E o que você quer que eu pense disso Beatrice? - Sentia meu corpo todo doer, talvez um reflexo da minha cabeça. Eu queria responder à tudo o que ela tinha dito, mostrar como eu gostei de saber daquilo. Mas eu não sabia nem o que pensar. Foi como se uma cortina espessa fosse tirada do meu caminho e eu pudesse enxergar a mesma Beatrice por quem eu fui apaixonado toda minha vida.
- Pense o que quiser Ben, eu só precisava falar isso. - Ela se levantou pra ir embora. Eu precisava tomar alguma atitude, pelo menos alguma vez.

Entendi que tudo o que vinha acontecendo até ali tinha a ver comigo, minhas confusões, meus complexos, minhas escolhas. Se eu tivesse coragem antes, tudo seria diferente. Era como se um relógio estivesse mesmo batendo, me mostrando que o tempo estava passando e que se aquela era mesmo a mulher da minha vida, eu tinha que correr.

- Espere Beatrice. - As palavras saíram tão sozinhas quanto todas as coisas que aconteceram dali por diante.

Ela se virou e eu a abracei, como sempre quis fazer. E ela se moldava tão bem aos meus braços... Senti todo meu corpo tremer e meu coração acelerar, como nunca senti antes. O coração de Beatrice também acelerado, um pouco abaixo do meu, me dava energia e felicidade, como eu nunca pensei que pudesse sentir. Eu me senti inexplicavelmente bem. Beatrice também cheirava muito bem. Um cheiro difícil de definir, mas extremamente agradável, o melhor que eu já tinha sentido. Ela me abraçou forte e eu estava pensando em um milhão de coisas quando voltei a realidade.

Repeli Beatrice, me sentindo intensamente culpado, pensando em Ellie.

- O que houve Ben? - ela perguntou
- Eu não posso fazer isso com Ellie. Não posso.
- Eu entendo.
- Preciso falar com ela. - Precisava fazer isso o mais urgente possível
- Tudo bem. Eu não vou pra a casa dela, talvez eu volte pra La Palma.
- Beatrice, fique, por favor. Eu vou conversar com Ellie. - Andamos até os carros
- Eu não vou voltar agora, vou dar umas voltas.

Antes de deixá-la ir, o lado da minha cabeça que chamava o nome de Beatrice queria mais alguma coisa. Ele não queria ir embora. Abracei Beatrice outra vez, e o lado que estava controlando minha cabeça, o lado que pertencia a ela, me fez beijá-la. Quando senti os lábios quentes de Beatrice tocando os meus, sabia que era ali que eu queria estar. Mesmo que eu gostasse de beijar Ellie, nada se comparava àquilo. Eu me senti em algum lugar muito especial, talvez o paraíso. Era a primeira vez que eu sentia o sangue correr pulsante, forte e quente por todo meu corpo. Mas isso tinha que acabar. Eu não podia fazer isso com Ellie.

- Tenho que resolver isso Beatrice. - Eu interrompi.

Beatrice entrou no carro e seguiu, eu não sabia pra onde, mas eu não conseguia sair daquele lugar onde ela estivera instantes atrás. A responsabilidade me chamou de volta. Sabia que podia encontrar Ellie em casa, fui para onde ela estava.

Pensei em mil opções de onde ficar depois do que tinha feito. Eu sabia que tinha escolhido Beatrice, então não era justo ficar enganando Ellie. Quando cheguei, Ellie me recebeu como sempre, mas quando ela foi me beijar, eu recusei.

- Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou.
- Eu tenho que falar com você, é urgente. Se puder ir comigo no carro, não queria conversar em casa.
- Tudo bem então.

Fui ao lugar preferido de Ellie depois da praia, o Descanso Gardens. Ir em silêncio por vinte minutos num carro é muito tenso. O jardim era um lugar calmo, com muitas plantas e uma casa de chá japonês. Nos sentamos por lá e ela me perguntou o que tinha de errado.

- Ellie, eu não posso ficar me enganando e muito menos enganar você. - Ela ficou séria.
- Dá pra você ser direto? Estou ficando com medo.
- Eu não posso continuar namorando com você. Eu amo Beatrice. Eu sei o quanto você é especial e como você tem me apoiado todo esse tempo. Me desculpe, por favor.

Ellie ficou estática. Não dizia uma palavra, só me olhava. Eu continuei.

- Eu estava disposto a levar isso adiante, mas hoje eu conversei com Beatrice e vi que cometi os piores erros durante esses três últimos meses.
- Então... Eu me encaixo na categoria dos erros?
- Não, nunca, você foi meu único acerto. Mas eu nunca deixei de amar Beatrice, mesmo que eu goste de você.
- Tudo bem, eu entendo, "gostar" não é "amar". Eu disse que o que você escolhesse eu ia aceitar, sendo ou não ao meu favor. - Ellie parecia estar racionalizando o que eu tinha dito. - Eu não devia ter permitido isso, eu sabia que você era apaixonado por ela, antes mesmo de saber que era minha prima. Não vou dizer que estou me sentindo a pessoa mais feliz do mundo. Mas, é a vida.
- Me desculpe Ellie, por favor.
- Não tenho o que desculpar. É claro que eu estou triste, mas estou tentando aceitar. Era isso que você tinha pra me dizer? - Ela perguntou, totalmente fria.
- Eu não vou mais te incomodar, vou sair da banda, devo voltar à La Palma.
- Ben, não estrague seu futuro por causa disso. Nós não chegamos a namorar sequer um mês, você tem a universidade, e o festival é sábado agora. Independente de mim e de você, pense nos outros garotos, as expectativas deles com relação ao festival. Não seja egoísta. E, por mim, não tem problema que você fique lá em casa, até conseguir outro lugar, se quiser mesmo ir.
- Ellie, vou me sentir culpado toda vez que olhar pra você.
- Não deveria. Eu disse que isso não precisava ser sério, foi você que escolheu. Se quiser ir pra minha casa, tudo bem. Não vou com você, vou passear um pouco pelo jardim.
- Aqui não é muito longe pra você ficar só? Como você vai voltar? Está sem carro.
- Eu moro aqui Ben, sei me virar. Não se preocupe com isso.

Eu me senti mais culpado com essa reação de Ellie do que me sentiria se ela fizesse um drama. Ela estava certa, eu escolhi isso. E ela era tão nobre que nem me acusou de tê-la usado, de enganá-la, nada disso. Mesmo que um lado de mim estivesse feliz por causa de Beatrice, o outro estava totalmente massacrado com tudo isso.

Eu precisava escolher qual dos dois lados seguir.

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