Capítulo 35

Terça-feira, cinco da tarde. Em algumas horas eu e Noah íamos passear. Ok, eu estava ansiosa, talvez tendendo para nervosa. Na verdade, isso não tinha nada a ver com a influência que Noah exercia sobre mim, por que ele não tinha influencia nenhuma. Tinha mais a ver com as meninas na minha cabeça, perguntando o que eu ia vestir, se eu ia usar maquiagem, etc. Eu não era tão vaidosa, as pessoas precisavam se acostumar com aquilo. Só o lápis de olho estava bom.

- Vamos Ellie, quero ver a roupa que você escolheu pra sair com Noah - Rachel falou
- Sei lá Rach, qualquer coisa está boa.
- Qualquer coisa? Você vai sair com o cara mais gato da vizinhança, pra o restaurante mais badalado do momento usando qualquer coisa?
- Mas que saco vocês, viu?
- A gente só quer você fique encantadora - Beatrice falou.
- Mais do que bonita - Rebecca completou
- Que frescura de vocês.
- Vamos, mostra pra a gente a roupa.

Abri o armário. As garotas olharam com uma cara de desaprovação total.

- O que foi? - Perguntei
- Você só tem calça jeans nesse armário? - Rachel disse
- O que você quer?
- Não tem um vestido?

Lembrei do vestido preto que usei na minha formatura. Na verdade eram dois vestidos, um por cima do outro, um preto justo de cetim e outro de renda por cima, um pouco curto. Foi bem polêmico usar aquele vestido. Devia estar com cheiro de mofo, já tinha um bom tempo de guardado. E, enfim, eu não ia sair com Noah com aquele vestido.

- Ali no canto tem um vestido - Beatrice falou. Elas descobriram o vestido.
- Wow! Que sexy! Pra onde você foi com esse vestido? - Rachel perguntou
- Deve ter ficado linda - Rebecca disse
- Gente, foi idéia da minha mãe, ok? Ela me mandou a foto do vestido por e-mail, eu fiz, foi polêmico, não pretendo vestir tão cedo.
- Se ele não fosse preto, ia ser perfeito - Rachel falou
- O que você tem contra roupas pretas? - Perguntei
- Nada, só acho que um jantar japonês no fim da tarde pede uma coisa menos gótica.
- Gótica?
- Você entendeu. Não tem nenhum outro vestido?
- Não Rachel, eu normalmente não tenho pra onde ir com os vestidos.
- Sorte sua que eu trouxe um vestido legal.
- Trouxe? - Eu, Rebecca e Beatrice perguntamos juntas.
- Vou buscar.

Rachel saiu rápido e voltou com um vestido dobrado nas mãos. Era rosa. Rosa, nada a ver comigo.

- Rosa?
- Você tem o que contra rosa?
- Nada, só não costumo usar.
- Ótimo, quebra totalmente a rotina. - Rachel mostrou o vestido
- Que lindo! - Beatrice exclamou, totalmente empolgada.
- A sua cara - eu disse
- Mas quem vai vestir é você.

O vestido era de frente única, de um rosa médio, amarrava no pescoço, rodado, parecia que era acima do joelho. Era bonito, mas não tinha nada a ver comigo.

- Experimenta.
- Não sei se vai ficar legal, não tem muito a ver comigo.
- Veste garota, se ficar ruim, a gente dá um jeito.

Eu vesti o tal vestido. Não ficou mesmo tão ruim. Ficou até legal.

- Oh, ficou tão lindo!
- Acho que você devia vestir rosa sempre, te deixou tão delicada.
- Combinou com sua pele.

Eu nem estava prestando atenção a qual delas estava dizendo aquilo tudo. Mas, apesar de tudo, eu acabei gostando do vestido. Não era chamativo, era simples.

- Vocês acham que ele fica bem com tênis? Eu gosto de vestido e tênis.
- Tênis? - As três falaram juntas.
- Eu acho legal.
- Está bem, me deixa ver as sandálias que você tem aí. - Rachel falou
- Não muitas...

Ela ficou bestificada com a quantidade de tênis que eu tinha. Tinha de várias marcas, de Nike à Converse, de Adidas à Vans. Eu comprava um par a cada seis meses, e desde que meus pés pararam de crescer eles começaram a acumular. Todos os modelos, dos mais sociais aos mais esportivos, de várias cores. Rebecca separou um All Star deluxe, daqueles que parece uma sapatilha, meio avermelhado.

- Já que você quer ir de tênis, pode calçar esse. - Ela disse
- Não acha que fica muito chamativo? - Perguntei
- Vai ficar ótimo. - Beatrice disse
- Eu acho que você precisa começar a se arrumar. Assim, são cinco e meia, vocês marcaram as sete, ainda tem a maquiagem, o cabelo. - Rachel falou
- Maquiagem? Cabelo? Pra que isso? Um rabo de cavalo está ótimo.
- Pelo amor de Deus Ellie. Vai tomar banho, se veste e volta pra a gente te arrumar.

Alguns minutos depois eu estava sentada na frente do espelho, com uma penteando meu cabelo e duas me maquiando. Eu estava de olhos fechados, não tinha noção do que elas estavam fazendo. Quando abri os olhos e me vi no espelho, nem me conheci. Eu me achei delicadamente bonita.

- Vocês... - Eu não tinha adjetivo para elas - Vocês foram... Surpreendentes. Obrigada.
- Você está linda.
- Também acho.
- Concordo.
- Obrigada. Muito obrigada.

Eu estava me sentindo estranha. Desci as escadas pra esperar Noah chegar. A surpresa de Ben e Kevin me deixou insegura, mas foi engraçada. Era como se eles nunca tivessem me visto de verdade. Comentaram um pouco sobre meu visual, até que Noah chegou.

Noah usava jeans, uma T-shirt azul escura e uma linda jaqueta de couro preto. Ele pareceu tão surpreso com minha roupa quanto os outros garotos.

- Ellie... - Ele parou uns instantes - Você está muito bem com esse vestido.
- Obrigada... - Eu provavelmente comecei a ficar vermelha. - Podemos ir? - Perguntei, querendo sair da porta. Eu sentia os olhares das meninas nas minhas costas.
- Está bem.

Fomos caminhando para a pick-up preta estacionada do outro lado da rua, o carro do pai dele.

- Engraçado, nunca te imaginei de vestido - Ele comentou dentro do carro.
- Isso quer dizer que eu estou estranha? Porque eu estou me sentindo totalmente estranha com esse vestido.
- Não, te achei muito bonita. Até me senti um pouco desleixado perto de você.
- Tudo que eu não queria. Antes eu vestisse um jeans com camiseta, você também, e fôssemos comer um hambúrguer no Mcdonalds.
- Você não quer comer comida japonesa?
- Não foi o que quis dizer. Estou curiosa pra conhecer o restaurante que todo mundo está falando.
- Humm, legal. Vou ligar o som, ok?
- Por mim tudo bem.

Noah começou a ouvir umas músicas leves, bonitas. Eu fui ouvindo cada música, era como se elas tivessem uma mensagem. Não era a primeira vez que eu tinha a sensação de que Noah estava me mandando recados com as músicas.

Quando paramos no estacionamento, uma senhora estava oferecendo biscoitinhos da sorte do restaurante chinês do lado do japonês que íamos.

- Vamos pegar um biscoito desses? - Perguntei.
- Por mim, tudo bem. - Ele respondeu. Fomos até a mulher e pegamos dois biscoitos.
- Abre o seu primeiro. - Eu disse

Ele quebrou o biscoito e tirou o papelzinho.

- Pode ler para mim? - Perguntei. Ele começou a rir.
- "Quer a faca caia no melão, ou o melão na faca, o melão vai sofrer."
- O quê? Que coisa idiota foi essa? - Eu comecei a rir também. - Esses biscoitos são malucos. Cada coisa que vem...
- A minha sorte foi ridícula. Veja a sua, estou curioso pra saber o que tem aí.
- Hummm... - Quebrei o biscoito, já pensando na besteira que viria - "O amor está mais próximo do que você imagina."

Ficou aquele silêncio chato.

- Esses biscoitos só têm maluquice mesmo... - Eu disse, mudando de foco.
- É, vamos entrar. - Noah disse, já passando o braço pelos meus ombros.

O restaurante estava bem cheio, mas Noah tinha reservado para nós uma mesa no canto, com vista para o mar. Nos sentamos e ele pediu os comentados temakis.

- Pra mim, califórnia. E pra você Ellie?
- Clássico, salmão com cream cheese.
- Então, temakis Califórnia e clássico, por favor.

Começamos a conversar. Uma música agradável tocava no fundo, o que puxou nosso assunto mais comum, música.

- Você sabe dançar Ell's?
- Prefiro evitar.
- Porque, não gosta?
- É bom quando não sou eu que estou dançando. Talvez seja trauma do balé. - Ele sorriu.
- Eu também já fui obrigado a fazer aulas inúteis.
- O que você fez?
- Karatê, por dois anos. Eu era terrível.
- Você? Terrível em alguma coisa? Eu com certeza era muito mais terrível no balé do que você pode ter sido no Karatê.
- Você surfa bem
- Você também, bem melhor que eu, por sinal.
- A gente podia sair pra surfar de novo um dia desses
- É, já tem um tempo que eu não surfo.

O garçom chegou com os temakis. Comendo a gente conversou pouco, mas isso é normal.

- Quer pedir alguma coisa pra beber? Acho que vou pedir uma Coca, o que acha?
- Coca-cola... Eu sempre fico um pouco diferente depois de tomar coca.
- Como assim?
- Sei lá, só você vendo pra entender. - Ele deu um riso de canto e chamou o garçom.
- Pode trazer duas cocas? Quer pedir o sushi agora Ellie?
- Pode ser.
- Então - Ele olhou o cardápio - Por favor, traga uma barca, com sushi e sashimi.
- Sim, senhor

Voltamos a conversar, esperando o garçom voltar.

- Achei interessante você se vestir assim hoje.
- E estranho, não é?
- Eu achava mais provável você aparecer de jeans e tênis, tem mais a ver com você
- Também acho. Mas as meninas que me arrumaram. Por mim, usaria jeans e tênis mesmo
- Você ficou linda.
- Obrigada. Também gostei da sua roupa. Achei que a jaqueta caiu bem.
- Muito obrigado.
- Foi meio inesperado também, nunca te vi de jaqueta. - Ele sorriu e passou a mão pelo cabelo. Parecia que ele sabia o quanto aquele gesto me causava reações estranhas.

Um garçom chegou com os refrigerantes. Eu sabia que ia ficar bastante agitada a partir dali, mas não deixei de tomar meu refrigerante. Ele queria mesmo me ver agitada, então...

Não demorou muito pra o barco de sushi chegar, com palitinhos e tudo. Eu, totalmente animada, peguei meus hashis e comecei a comer. Noah olhou os hashis, olhou para mim, viu minha habilidade com os palitinhos, olhou novamente para os hashis. Nada de pegar os hashis pra começar a comer.

- Vai ficar me olhando, não vai comer?
- Eu... Não sei comer com pauzinhos.
- Não sabe usar os hashis? - Eu comecei a esboçar um sorriso
- Não
- Sério? - Eu sorri
- Não, não sei... - Ele riu e baixou a cabeça.
- Tudo bem, eu te ensino.
- Você acha que eu nunca tentei?
- Vamos lá. - Peguei os hashis dele, tirei da embalagem, mostrei como fazia - Olha aqui, prende um entre o polegar e o anelar, e o outro você movimenta com o indicador e o médio, viu?
- Quando você faz parece tão fácil
- É prática. Tenta aí

Ele pegou os palitos, segurou com força, tentou mexer, mas não conseguiu. Eu peguei os palitos e arrumei nas mãos dele.

- Assim, como eu coloquei, tenta mexer.

Ele, todo sério, tentava mexer os hashis. Tentamos umas dez vezes, até que ele conseguiu pegar alguma coisa no barquinho.

- Muito bem!
- Isso, eu consigo usar palitos pra comer!
- Acha que pode comer sozinho?
- Acho que preciso pedir garfos.
- O que é isso, estamos num restaurante japonês! Vamos lá - Peguei um pouco do sashimi - Abre a boca. - Ele sorriu - É sério.

Além de comer, eu dava comida na boca dele. Ele se revoltou, pegou só um palito, enfiou no peixe e colocou na boca de vez.

- Que revolta! - Eu disse
- É mais legal comer assim
- Humm, vou experimentar.

Quando conseguimos terminar a comida, segurando direito ou não os palitinhos, começou a tocar umas músicas legais na pista de dança. Ele se levantou, estendeu a mão.

- Me concede essa dança? - Ele sorriu. Sorriso lindo
- Não se puder evitar
- Como você não pode evitar, vamos dançar um pouco.

Ele foi me arrastando até a pista e aí começou uma música, muito familiar para mim, Mondo Bongo de Joe Strummer & The Mescaleros.

- Noah, eu não sei dançar.
- Eu também não. Mas não é uma coisa tão impossível.
- Pra mim pode ser.
- Você já fez balé.
- Não esqueça que eu era a pior.
- Se quiser, pode pisar nos meus pés.
- Não, isso é ridículo, todo mundo vai ver que eu não sei dançar.
- É só você me deixar te levar.

Ele colocou as minhas mãos nos seus ombros e suas mãos na minha cintura. Começou devagar a me levar.

- Você me ensinou a usar os tais palitos, que tal me deixar te ensinar alguma coisa?
- Se você não sabe, como vai me ensinar?
- Ouça o que eu estou dizendo: dois pra lá, dois pra cá. Pra frente, pra trás. - Eu pisei no pé dele - Se concentre Ellie.
- Desculpa.
- Tudo bem. Faça silêncio e me siga.

Eu fechei os olhos e deixei ele me levar, calmamente. Ele se encostou, foi dançando, a música era boa, o parceiro era bom, eu até esqueci que não sabia dançar. Ele começou a cheirar meu pescoço, me beijar e eu... Mas, enfim, não foi uma experiência traumatizante. Enquanto Noah me guiava, eu me senti segura. Não a segurança que você sente com seu pai. Uma segurança confortável, atraente, que nem um míssil poderia destruir o campo de força que nos rodeava naquele momento.

Quando a música acabou eu abri os olhos e vi Noah me olhando. Ele parecia não se incomodar com a minha falta de coordenação provocada pelo nervosismo, ou o fato de eu estar quase caindo sobre ele. Ele me segurou firme e eu fazia parte dele ali, não podia negar. E seria pior, se eu acreditasse mesmo que ele me pertencia.

O amor está mais próximo do que você imagina. A frase do biscoito da sorte tinha muito sentido agora.

- Dançar um pouco foi assim tão horrível? - Ele perguntou e sorriu.
- Não. Não foi terrível. Foi até legal.
- Até legal?
- Entenda como quiser. - Eu sorri. Eu não queria me iludir muito com aquilo.
- Está bem, vou entender como "muito bom", pensando positivamente.
- Acho que está na hora de ir embora.
- Você quer mesmo ir? - Ele me olhou sério, parado na pista, outra música tocando.
- Pra ser sincera... Não.
- Vamos andar um pouco na praia?
- De noite?
- Não tem nada demais.

Nós fechamos a conta do restaurante e descemos para a praia. Eu e Noah andamos por um bom tempo pela praia de Santa Mônica, na beira do mar. Paramos em qualquer lugar pra descansar um pouco, ele cobriu a areia com a jaqueta, pra que eu pudesse me sentar.

- Que desperdício. Se eu estivesse de jeans...
- Eu não poderia agir como um cavalheiro. - Ele falou e eu sorri.
- Está certo.

Nos sentamos na areia e eu encostei a cabeça no ombro dele. Ele começou acariciar minha cabeça, e eu fui ficando cada vez mais encolhida no peito dele. Ele me beijou carinhosamente.

- Eu acho que a sua sorte saiu certa, considerando a distância física entre nós - Ele falou - Eu estou bem do seu lado.
- Talvez seja mesmo.
- Ellie - ele olhou o relógio - Odeio estragar tudo, mas precisamos ir para casa, mesmo contra minha vontade. São quase dez horas.
- Tudo bem. Eu sei, minha mãe não está em casa, mas a sua está, sei como é.

Noah se levantou, estendeu a mão e me puxou. Nós fomos andando de mãos dadas até a escada do píer, onde ele me colocou nas costas e me carregou. Noah era muito fofo às vezes.

Entramos no carro e fomos ouvindo música e conversando até em casa. Mesmo morando do outro lado da rua, Noah me levou até a porta de casa, me abraçou, me beijou e desejou boa noite.

- Você é bem fofo, sabia?
- É, minha irmã diz isso.
- Ah, engraçadinho... Muito obrigada. Gostei do passeio.
- A partir de hoje, se você quiser, Mondo Bongo pode ser uma música pra a gente.

Eu sorri.

- Ok. - Ele me beijou de novo - Boa noite - eu disse
- Até outro dia. Talvez amanhã. De qualquer modo, eu estou bem aqui na casa da frente.
- Está bem

Então, eu voltei a sonhar com Noah. Acordada, muitas vezes. Se é que eu tinha parado de sonhar com ele em algum momento.

O tempo foi passando rapidamente. Na quarta-feira, o pessoal voltou pra La Palma, e Ben voltou com eles. As coisas quase que voltaram à rotina normal. Com a diferença de que eu tinha Noah agora. Não era bem meu namorado, mas no dia que eu não o via achava tudo chato. Uma semana depois, Ben voltou pra minha casa, dizendo que Rachel e Rebecca tinham um conhecido numa gravadora, que podiam conseguir uma audição, várias coisas promissoras.

Juntamos uma grana, gravamos um demo, levamos pra a tal gravadora. O homem que falou com a gente, David Fletcher, foi muito simpático, bastante receptivo. Só foi um pouco chato toda atenção que ele me dedicou, por eu ser mulher e baterista. Era como se fosse a coisa mais estranha do mundo. Interessante foi saber que ele era padrinho das meninas.

Minha mãe voltou de Boston, pra morar definitivamente comigo. Eu fiquei bem feliz pela escolha dela, mesmo estando triste por ela e meu pai não estarem mais juntos. Eu a apresentei aos moradores da casa e, como ela trouxe muitas tralhas de Boston, Noah veio ajudar a carregar. Minha mãe estranhou.

- E esse rapaz bonito, quem é? - Ela perguntou
- Ah, ele é Noah, filho dos vizinhos da frente. - Eu disse bem quando ele estava voltando. - Noah, esta é minha mãe, Lucy. Mãe, esse é Noah. É o nosso vizinho, também toca na banda e... - Ele me olhou como se dissesse que aquele não era o melhor momento pra falar sobre aquilo - meu amigo.
- Ah, certo. Prazer em conhecê-lo Noah
- O prazer é meu.

Claro que minha mãe desconfiou que tivesse alguma coisa a mais entre mim e Noah. Mas eu preferi deixar pra conversar sobre isso depois, mesmo porque, Noah sempre estava lá em casa.

Mais tempo passou, David da gravadora não entrou em contato. Todos nós começamos a estudar e eu fiquei sabendo que Josh ia ser pai porque a garota da festa, Nicole, estava grávida. Ele convidou a mim e Dan para ser padrinhos do filho dele e, mesmo achando que isso aconteceu muito cedo, eu não recusei o convite.

Seis meses depois do começo das nossas aulas, David entrou em contato. Nós vínhamos fazendo shows na universidade, quase todas as sextas-feiras, além de outros lugares. Eu até já tinha esquecido a gravadora. O amigo da minha mãe, o advogado, Alan Gray, que estava cheio de intimidades com ela, foi nos representar e soubemos que íamos assinar um contrato. Apesar de nem tudo ser tão rápido, de parecer que não íamos à lugar algum, acabamos vendendo 500 mil CDs, lançando videoclipe e tudo mais.

Além disso, eu comecei a ser chamada para ensaios fotográficos e entrevistas em revistas como Entertainment Weekly, Teen Vogue, Rolling Stones, Cosmopolitan, Glamour, Nylon, Seventeen, Vanity Fair, muitas que eu nem sequer leio, e outras como Woman's Health e Transworld Surf, somente porque eu surfo e toco bateria.

Eu achava tudo isso muito fútil e nada a ver comigo, nem sequer conseguia me organizar com os horários deles. Noah me ajudou bastante com isso. Ele acabou virando quase meu empresário, além de namorado e baixista da Blue Blanket.

Eu podia me estressar muitas vezes com os rumores por causa da pequena fama que a banda conseguiu. Mas Noah sempre estava do meu lado.

Eu penso que, ainda que Ben seja um ótimo rapaz e nós tenhamos sido mais do que amigos por um tempo, mesmo que eu tenha gostado dele e tenha ficado triste quando ele não me escolheu, talvez não precisasse mesmo ser assim. Noah esteve quase todo tempo do outro lado da rua, me observando, esperando a vez dele.

Talvez Ben não tivesse mesmo que ficar comigo, talvez Noah fosse meu destino. Eu me sentia bem, completa com ele. Já não conseguia nos imaginar separados. E tudo o que ele fazia me deixava mais e mais próxima.

Ele me mostrou muitas músicas que tinham um significado muito bom para nossa história. Mas nenhuma delas resumia tanto o que eu sentia como uma que eu pedi para ele ver, chamada No Rain do Blind Melon: All I can say is that my life is pretty plain I like watchin' the puddles gather rain and all I can do is just pour some tea for two and speak my point of view...
I just want someone to say to me, I'll always be there when you wake. You know I'd like to keep my tears dry today, so stay with me and I'll have it made. (Tudo que posso dizer é q minha vida é bem normal. Eu gosto de ver as poças aumentando com a chuva. E tudo que posso fazer é apenas servir chá para dois e expressar meu ponto de vista. Eu apenas quero alguém que me diga 'eu sempre estarei lá quando você acordar'. Você sabe, eu gostaria de não chorar hoje, então fique comigo e eu conseguirei isso)

Noah era a pessoa que podia dizer que estava do meu lado quando eu acordasse e agora eu me sentia segura. Não faltava absolutamente nada que eu quisesse ter, portanto, do que sentir falta? Eu estava satisfeita, era eu, e podia ser feliz.

Comentários

  1. acabou?????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????

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  2. Não ainda, calma. Falta Ben contar o final dele (e Beatrice tbm, não acha?)

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