O LIVRO de Bárbara #02

Sexta- feira, 29 de maio de 2009

Esses tempos eu tenho conversado com algumas pessoas da minha sala. Não sei se por causa de Felipe, mas algumas meninas têm vindo conversar comigo no intervalo e em outros momentos.
Na última semana, se tornou um costume meu e de Felipe conversar no intervalo. Normalmente saímos pra lanchar juntos. Ele é engraçado. Bem, ele brinca bastante com o fato de que eu sou quieta e me apelidou de “séria”. Sempre quando ele chega na sala e me vê diz “Oi séria!” e sorri. É uma coisa legal. Acho que ainda não somos amigos, mas ele me trata bem e é muito inteligente.
Essa semana ele me fez uma pergunta que eu não respondi, mas ainda estou pensando na resposta. Alguém o contou que, logo que cheguei ao colégio, eu costumava ser mais aberta para as pessoas, que até brincava, mas depois me tornei séria e reclusa. “O que te fez mudar assim?” Eu não ia dizer que fiquei em depressão quando perdi minha mãe. Foi no meio da primeira unidade, exatamente na sétima série, eu tinha 13 anos. Eu não quero que ele sinta pena de mim, pena nunca é um bom sentimento.
Mas, o que eu posso responder a essa pergunta? Mesmo que eu passe a vida toda tentando, um dia eu vou dizer a Felipe a resposta dessa pergunta. Sinto como se fosse uma dívida, dar a ele a resposta da pergunta que está me fazendo refletir tanto.


Segunda- feira, 1º de junho de 2009

As férias devem começar no fim do mês. Semana que vem tem um feriado prolongado, quinta-feira, Corpus Christi. De uns tempos pra cá, eu comecei a abominar feriados. Talvez isso tenha a ver com o fato de que minha mãe foi assassinada por um assaltante no feriado de 21 de abril. Nos feriados as ruas enchem de ladrões, minha mãe foi só mais uma vítima. Me pergunto se um dia isso vai deixar de existir.
Meu pai não casou outra vez. Às vezes eu penso que a psicóloga é apaixonada por ele; eu não dou tantos motivos assim pra ele ser chamado tantas vezes.
Esse feriado vai ter outra coisa negativa: vou ficar dois dias a mais sem ver Felipe. Isso não quer dizer que eu estou gostando dele, só que ele é uma boa companhia e a gente gosta de conversar. Ele me distrai das dores da vida.

Terça- feira, 2 de junho de 2009

Hoje aconteceu uma coisa legal.
Uma das histéricas meninas que se julga afim de Felipe, resolveu me encher de desaforo. O nome dela é Laura. Eu estava saindo da escola em direção ao portão, onde meu pai normalmente me pega para irmos pra casa.
“E aí, ‘séria’?”, ela disse, com uma voz sarcástica, “Está esperando seu pai?” “Sim”, eu respondi, “Algum problema?” Aquela menina só tinha falado comigo duas vezes desde que eu entrei na escola.
“Você é o problema. Aliás, se você está se iludindo de que pode ter alguma coisa com Felipe, se toque, é impossível” Minha vontade foi dizer que, se ela estava se incomodando, era exatamente porque tinha possibilidade. Enquanto ela falava, Felipe foi se aproximando. Quando ela terminou, ele passou por ela, olhou pra mim e disse “Ela está te incomodando Bárbara?” Antes que eu pensasse em responder, ele passou o braço por meu ombro, disse “vamos?” e foi me levando pra fora do portão. Meu coração ficou a mil de felicidade.
“Desculpe por essa menina chata, ela é maluca”, ele disse, parando comigo do lado de fora da escola. “E o que ela falou não tem nada a ver”. Aí, ele sorriu pra mim e se despediu. Foi nessa hora que eu notei que meu pai estava com o carro parado na minha frente. Claro que ele perguntou quem era o rapaz, mas eu nem me importei, afinal, a vergonha que aquela Laura passou e o que ele disse depois fez meu dia todo valer a pena.

Sexta-feira, 05 de junho de 2009

Não sei o que aconteceu, mas hoje eu me senti muito triste. Às vezes ainda fico lembrando da minha mãe. Ela faz uma falta enorme. Se ela ainda estivesse aqui, talvez eu pudesse deitar em seu colo e sentir que ela estava acariciando meus cabelos até que eu pegasse no sono. Será que algum dia alguém vai compreender tudo o que se passa na minha cabeça? Será que eu vou compreender? Às vezes eu penso se morrer não seria uma maneira de me sentir aliviada. Minha diz que a morte é como o sono. Dormir é tão bom...

Segunda-feira, 08 de junho de 2009

Estive pensando em quantas pessoas se importariam se um dia eu acabasse morrendo. Ou se eu sumisse. Talvez só meu pai. Eu sou a única parte da minha mãe que sobrou pra ele. Mas, porque eu não sou importante na vida de ninguém?
Parei na frente do espelho e fiquei refletindo sobre mim. Se eu fosse um garoto, será que eu gostaria de mim? E se eu fosse Felipe?

Quinta-feira, 11 de junho de 2009

Maldito feriado. Chorei muito hoje. Meu pai não entendeu bem por que. Pra ele, o momento de chorar pela minha mãe é sempre quando faz um ano que ela morreu, ou no aniversário dela, ou no aniversário de casamento deles. Eu acho isso muito clichê. Se eu a amava, posso chorar por ela todas as vezes que quiser.
Acho que meu pai esqueceu minha mãe. Ele está saindo com uma mulher que eu ainda não conheci. Não que eu seja contra ele casar de novo. É até bom, todo mundo precisa de companhia. Mas eu tenho medo de que minha futura madrasta seja uma louca e influencie meu pai a me jogar da janela do sexto andar. Na verdade, isso não seria possível, eu moro em casa térrea.
Fiquei muito sozinha hoje. Resolvi reiniciar os clássicos da literatura brasileira. Estou relendo Lucíola, de José de Alencar.
Felipe acha que eu devo ser menos isolada. Resolvi fazer um Orkut espião. Ninguém pode me achar, nem me adicionar. Pra quê? Posso ver o que estão falando no momento. Posso ver as fotos. Se bem que só uma pessoa me interessa de fato.


"Se bem que só uma pessoa me interessa de fato". Ler essa parte me deixou em êxtase. Bárbara... Ela pairava meus pensamentos todo tempo. Eu passava boa parte do meu tempo pensando nela. Quando eu não estava diretamente pensando nela, pensava em como ficar perto dela ou dormia e sonhava com ela. Eu não tinha mais liberdade. E fiquei muito tempo sem coragem de dizer isso a ela, porque eu mesmo não sabia o que ela sentia por mim. Se eu tivesse lido tudo isso antes... Agora eu tinha certeza do que devia fazer.

Comentários

  1. Ah Raquel, isso devia ser proibidoooo

    se vc quer me matar, me mate logo
    nn fique escrevendo aos poucoooooos
    XD

    ¬¬ te odeio

    (mentira, te amo, foi passageiro)
    Decidi que nn lerei até vc terminar U_U"

    ah sim,amei a jogada do "Minha vó diz que a morte é como o sono. Dormir é tão bom..."
    nuss
    foi simplesmente DEMAIS

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