O LIVRO de Bárbara #13

- Posso conversar com o senhor pessoalmente? – Perguntei ao pai de Bárbara, percebendo que ele ficava cada vez mais nervoso com a situação.
Embrulhei o diário, tomei um banho às pressas e malmente dei bom dia aos meus pais.
- E onde você está indo com essa pressa toda Felipe? – Meu pai perguntou.
- À casa de Bárbara.
- Nove da manhã de domingo? O que você perdeu lá que não pode nem tomar café? – Minha mãe questionou.
- Preciso falar com o pai dela.
- Então Mauro, parece que enfim nosso menino está procurando algum compromisso, não é Felipe? – Ela disse, sorrindo.
- Humm, levando até presente, hein? – Meu pai falou.
Eu simplesmente ignorei o fato de meus pais estarem pensando que eu ia pedir Bárbara em namoro. Não que isso fosse uma coisa que eu não queria fazer – até preferia que a opção fosse essa. Mas era melhor deixá-los pensar nessa hipótese do que explicar que eu estava envolvido até o pescoço com a história do sequestro de Bárbara. E que eu não estava levando um presente, mas o testemunho de uma fraude. Apenas sorri diante de suas conjecturas e saí apressado.
Bárbara não morava tão longe, ir andando me daria um tempo pra processar as informações. Talvez, independente da reação de Seu Paulo, eu devesse informar à polícia o que estava acontecendo. Eu poderia tentar descobrir alguma coisa com a prima dela, Carolina.
Seu Paulo me recebeu pálido e abatido, conturbado com o problema. Talvez ele estivesse se sentindo culpado. Quando eu cheguei, ele tinha acabado de receber um telefonema dos seqüestradores, pedindo um resgate absurdo por Bárbara. Sugeri que chamássemos a polícia.
- Você não sabe de nada rapaz. Eu prefiro me virar sozinho pra conseguir algum dinheiro e pagar esse resgate do que envolver a polícia nisso.
- Paulo – A mãe dele, Dona Zélia, começou a falar – o menino está certo.
- Seu Paulo, eu vim pra explicar como soube do sequestro.
Contei pra ele que, no sábado de tarde, encontrei na caixa de correio um diário que pertencia a Bárbara, que eu tinha passado a noite lendo e que algumas coisas escritas provavam que Bárbara sabia demais sobre algo que ele queria esconder. Além disso, a mensagem na página 200 pedia socorro por um sequestro que, até então, não tinha se concretizado. Pedi pra falar com Carolina, a prima citada no diário.
Até esse momento, Seu Paulo não conseguia acreditar no poder de investigação da filha dele. Dona Zélia ligou para a polícia, que perguntou se o sumiço já tinha 48 horas, ou eles ainda não podiam se envolver no caso.
- Moço, entenda, já é um sequestro confirmado... Acabamos de receber uma ligação dos sequestradores... Eu sou avó da vítima... Temos uma testemunha... Casa número...
Eu esperava enquanto Dona Zélia explicava a polícia o nosso problema. Depois, liguei pra Carolina, que poderia ser uma segunda ajuda.
- Oi Carol. Aqui é Felipe, amigo de Bárbara.
- Oi Felipe, conseguiram descobrir onde Bárbara está? Estou muito preocupada, ela devia ter chegado aqui ontem à noite, não deu notícias nem nada...
- Ainda não, mas eu preciso que você me ajude. O que sabe sobre o diário dela?
- Ela deixou esse diário comigo na sexta-feira. Disse que eu devia entregar a você se ela me mandasse alguma mensagem estranha. Me deu o seu endereço e tudo. Não entendi bem o porquê, mas sei que Bárbara achava que estava sendo perseguida. Ela me mandou uma mensagem no sábado de tarde, com alguma coisa parecida com “Sorvete faz bem à garganta”, uma frase bem estranha. Então pensei que esse deveria ser o sinal. Fui à sua casa, mas parecia que não tinha ninguém. Então deixei o livro na caixa de correio. Na mensagem tinha também o nome de uma sorveteria.
- Qual era o nome da sorveteria?
- Marshmellow, é aqui perto da minha casa.
- Carol, você pode vir à casa de Bárbara? A polícia foi chamada e acho que, se você disser tudo o que sabe, podemos encontrá-la.
- Tudo bem, devo chegar em meia hora.
Carol chegou praticamente junto com a polícia, e veio com a mãe. Um policial alto, aparentando uns 45 anos, vestido à paisana, se apresentou como Detetive Nogueira e começou a perguntar algumas coisas.
- Alguém pode me dizer o nome completo da vítima, idade e características físicas, por favor? – Outro policial, com uma caderneta, perguntou.
- Bárbara Cerqueira Nunes, 16 anos, aproximadamente 1,66, cabelo preto,um pouco maior que os ombros, olhos castanhos, magra... – Dona Zélia, que era a pessoa mais calma naquela casa, fazia a descrição física de Bárbara.
- Quando foi o último dia que o senhor a viu? A que horas? Algum motivo aparente para o sequestro?
O detetive Nogueira se dirigiu a mim e começou uma sessão de perguntas. Então, comecei a explicar toda história do diário e falei sobre a mensagem que recebi pela manhã. Carolina contou sua parte na história, o que levou a polícia à sorveteria próxima da casa dela.
Como eu soube depois, Bárbara foi vista na sorveteria sozinha mais ou menos às duas da tarde e depois acompanhada por um homem de estatura mediana, vestido com roupas sociais, que a levou para fora da sorveteria. Ela foi colocada num Corsa sedan preto, que saiu rápido do local.
Os policiais ligaram para o número de telefone que me enviou a mensagem pela manhã; um rapaz que trabalhava numa loja de conveniência num posto de gasolina atendeu, disse que uma garota entrou acompanhada por dois homens, pediu uma caneta e um papel, escreveu o endereço, um número de telefone, comprou um chocolate e pagou pelo torpedo, enquanto os homens escolhiam alguns mantimentos. O posto ficava a 70 km da cidade. Os policiais perguntaram se havia alguma Rua das Cerejeiras ali perto e ele não soube responder.
O resgate que pediram por Bárbara era de 150 mil reais. Os sequestradores alegaram que era o dinheiro que Seu Paulo havia roubado. Ele disse que não sabia da existência do dinheiro.
A polícia estava investigando onde poderia ser essa tal Rua das Cerejeiras.

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