Qualquer coisa...

Bem, não sei bem o que escrever aqui. Mas sinto que colunas como #Buzufacts não são mais as mesmas. Eu não tenho tido tempo ou criatividade suficiente para dedicar a este blog o que ele merece. Mas acho que vou colocar nesse post uma crônica curta. Sobre ônibus.


Platonicidade...

É difícil em um bairro pobre de Salvador pegar um ônibus e encontrar uma pessoa bonita. Aliás, em bairro pobre, a população já se acha bonita entre si, por se acostumar com a feiúra. Posso falar com propriedade, venho de um bairro pobre. Ok, beleza é uma coisa extremamente relativa. Quando eu digo que uma é pessoa bonita, quero dizer que é alguém que chama a atenção dos meus olhos.

Sempre tive um queda por japoneses. Me lembro de um colega da quinta série, por quem fui apaixonada, que tinha descendência nipônica. Lembro mais ainda dele ser a minha primeira paixão platônica.

Na minha concepção, paixão platônica é aquela que povoa seus pensamentos e que nunca vai sair do plano da fantasia para a dimensão da realidade. É um apelido chique pra gente frouxa: platônico. Eu sou platônica.

Bem, lá estava eu, de manhã, na pobreza do ônibus, com cara de "não dormi mas ainda não acordei..." esperando que aquele fosse mais um dia normal, com gente ouvindo músicas idiotas e eu tentando pegar no sono até chegar o meu ponto. Então, ele apareceu.

O que me chamou atenção mesmo foram aqueles olhinhos puxados. Fora o fato de que ele parecia ter saído de um catálogo de loja de roupa indie. E que ele se sentou do meu lado. "Quem te perdeu pra eu te achar aqui nesse ônibus?" me perguntei. Tentei, em vão, enxergá-lo pelo reflexo da janela. De manhã, isso é impossível.

Ele era alto, magro, usava uma camisa xadrez e calça jeans, e ouvia alguma coisa alta no mp3. Permaneceu a viagem toda concentrado e silencioso, e eu aproveitei pra espiar quando ele fechou os olhos. Passei o resto da viagem imaginando mil maneiras de puxar assunto com ele, mas nada parecia muito viável. Na verdade, nada não parecia gritar "Você é uma graça, porque não casa comigo? Quero que meus filhos tenham olhos puxados..."

Então, me concentrei em pegar no sono. Quando abri os olhos ele já não estava mais do meu lado. "Pena, não vejo um desses nunca mais."

No dia seguinte, fiz o maior esforço pra pegar o ônibus no mesmo horário. Passando pelo ponto fiquei muito ansiosa, esperando que ele aparecesse. Umas cinco pessoas embarcaram e nada. Fechei os olhos e fiquei pensando na música, com toda certeza de que não o veria nunca mais.

Dois dias depois, quando eu nem esperava e meu cabelo parecia ter saído de um lava-jato, ele apareceu de novo. Dessa vez, se sentou na cadeira em frente a minha. Eu tentei não ficar olhando pra a cara dele, de novo.

Então, nas semanas que se seguiram, comecei a observar que ele só pegava o mesmo ônibus que eu duas vezes na semana, que ele ouvia rock no mp3 e que se chamava Marcelo. Parecia perseguição policial, e assim me mantive por três meses inteiros...

Platonicidade. Essa expressão nunca tinha se encaixado tão bem. Sei lá, eu não queria que ele me descobrisse. Eu não pensava nele comigo. Eu só queria que ele estivesse presente, completando minha viagem. Conheço muitas que teriam falado com ele na primeira semana. Eu até evito usar o nome dele. Mas eu sonhei com ele. Marcelo.

Era maluquice, mas em qualquer garoto de olhos puxados eu podia vê-lo. Então, achei que estava perdendo tempo demais da minha vida com isso. Verdade que ainda sentia alguma coisa nas terças e sextas, quando sabia que ele estaria no ônibus. Nada além dessa alguma coisa.

Um dia, cochilei antes dele entrar no ônibus. Sonhei e tudo. Eu estava num lugar diferente, parecia um parque, e meu celular tocava com insistência. Eu procurava o celular e não achava, de jeito nenhum. Então alguém mexeu no meu braço, de leve. Eu abri os olhos, assustada, temendo ter perdido o ponto. Isso que dava sair de casa de manhã cedo.

- Seu celular - Alguém disse enquanto eu abria os olhos e tentava verificar discretamente se não estava cheia de baba.
- Hã? Ah, obrigada - Agradeci, meio inconsciente, quando vi que era ele. Ele sorriu em resposta. Dentes perfeitos. Eu quase chorei.
- Não vai atender? - Ele perguntou.
- Humm, sim, obrigada. - falei, já sem graça.

A partir daí, quando nos víamos no ônibus, ele me cumprimentava, sempre. Perguntou meu nome e, quando sentávamos lado a lado, conversava comigo. Descobri seus gostos, seu sobrenome (Ikeda), um monte de coisas em comum.

Por que não nos casamos? Quando consegui me tornar amiga dele, notei na escola outro garoto japonês, Leandro Ushida. Ele é uma coisa fofa, parece personagem de Anime. Ainda não nos falamos, mas...

Comentários

  1. EU ESTOU ROLANDO DE RIR AQUI RACH

    tem nem noção de quanto... só vc mesmo e é por isso que te amo '-'

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  2. Pq vc não me contou desse aí? ushuahsauhsuasuashus Pediu msn né?
    VACILONA ESSA MINHA AMIGA VIU?
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  3. Gente, isso não foi real, tá? Deem um tempo para minha imaginação...

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