Divagações sobre o Carnaval - Parte 1

Vocês gostam do Carnaval?


Há uns dois anos (ou mais, desde que eu entrei no CEFET-BA eu perdi minha noção de tempo) eu estive conversando com uma amiga minha de São Paulo sobre o Carnaval de Salvador. Estávamos literalmente divagando sobre as cenas que nós costumamos ver atrás do trio elétrico. Como dizia o poeta, "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu". Eu concordo e acrescento: "atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu ou quem tem vergonha na cara" (coisa que eu realmente não tenho). Nós chegamos a algumas conclusões sobre o carnaval, e fizemos uma espécie de advertência:



"O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: Pular atrás do trio elétrico pode causar surdez irreversível e constrangimentos pro resto da sua vida."
Enfim, neste post eu vou descrever minha experiência no carnaval de Salvador deste ano.


Ontem, eu consegui convencer meus pais a irem comigo pra o circuito do Campo Grande, o circuito do carnaval do centro de Salvador e o mais tradicional. Meu desejo era ver um dos meus ídolos, Pablo do Arrocha, a voz romântica:


Enfim. A coisa já começou no ônibus (isso podia ir até pro #BuzuFacts). Eu moro na Ribeira, mas eu moro na área pobre (traduzindo, favela). Em consequência, o ônibus veio lotado de gente. O povo começou a pular a catraca, e a se amontoar no fundo do ônibus. Aí começaram a cantar (adivinhem?) os maiores sucessos do pagode nacional e internacional. Eu fiquei em pé, aturando o empurra-empurra e a cantoria desafinada. Pude ver da janela do ônibus a fila de carros para o Ferry-Boat. Pra quem é daqui de Salvador e sabe, o terminal do Ferry fica depois da Feira de São Joaquim, e a fila dos carros estava na av. Luiz Tarquinio (quase na Boa Viagem). Pra quem não é daqui, pra ter uma noção, eram mais de cinco quilômetros de fila de automóveis (façam o trajeto no Google maps). Ou seja, além desse povo que queria passar o carnaval na ilha causar contratempo pra si próprios, ajudavam no congestionamento das ruas da Cidade Baixa (não sei se já disse isso, mas qualquer dia esta cidade aqui pára, estamos virando São Paulo). Quando eu estava descendo do ônibus pra ir pro Elevador Lacerda, eu ainda pude ouvir de algum passageiro escroto uma "homenagem" ao motorista, parodiando a melô da Liga da Justiça: "o motô ficou fraco, o cobrador jogou kriptonita..." ou seja, além de aguentar a galera bagunçando no buzu, o cara ainda tem que suportar essas brincadeiras. Eu me pergunto se essas coisas só acontecem aqui...

Eu fui subir o Elevador Lacerda. Atipicamente, estava sem filas, e relativamente vazio. Junto comigo e meus pais entraram um baleiro e alguns caras sem camisa. Um dos descamisados perguntou pro baleiro:

- Tá quanto o BigBig aí, véi?
- Vinte centavos - respondeu o baleiro.
- Porra, irmão, tá me achando com cara de turista, é? A gente não tá no Rio não! - retrucou o descamisado
- Rio? Só se for Rio das Tripas - concluiu o baleiro
- Ói, deixa aí, pega logo o BigBig porque é carnaval e é isso aí - disse outro descamisado.

Essa conversa foi nos quase trinta segundos de subida no Elevador Lacerda. Eu me acabei de rir. Quando saímos do Elevador, fomos em direção à Praça Castro Alves. Eu ainda estava com esperanças de ver o Bloco Arrocha/Mutantes (o que Pablo ia puxar). Enquanto descíamos a Rua Chile, vimos o Olodum se preparando pra descer. Eu pensei: "Êta porra, vai ser lindo!".
Eu e meus pais descemos mais e ficamos em frente ao Cinema Unibanco/Glauber Rocha, onde tinha um posto da PM e um de informações. Eu fui perguntar no posto de informações se Pablo já tinha passado. O cara me respondeu: "já passou há um tempão, já deve estar no Campo Grande (ou seja, no final do circuito)." Eu senti um ódio tão grande que fui beber pra ver se eu esquecia. Eu não bebo cerveja, mas resolvi tomar uma latinha pra "dar um grau". A gente logo pegou "amizade" com o brother que tava com a caixa de isopor perto da gente. Isso me lembra de fazer uma nota mental: nunca mais misturar cerveja com ice, sobe rápido demais pra cabeça. Depois de tomar a latinha, passou um bloco de samba, e logo depois, o Olodum.


Pra quem nunca viu o Olodum de perto, eu digo: é uma experiência única. Aliás, os blocos afro por si só já tem um algo a mais. Mas o Olodum é mais ainda. Quando ele passou ali pela Castro Alves cantando clássicos (incluindo "Nossa gente (Avisa lá)", música que marcou minha infância no fim dos anos 90), sentir o toque dos tambores e ver as coreografias dos integrantes me fez arrepiar. É lindo.


A gente foi seguindo o Olodum pela Av. Carlos Gomes, em direção ao Campo Grande. Vimos vários blocos de samba. E eu fiz uma constatação: "Família que samba unida, permanece unida." Sim, porque eu e meus pais sambávamos juntos (como eu nunca tinha visto antes). Meu pai samba como o pessoal do recôncavo baiano (claro, dãã, ele é de lá), aquele samba de roda. Minha mãe já samba como eu, "miudinho" como ela diz. Tá, eu não sambo tão bem quanto ela, mas eu não passo vergonha.

Mais em frente, enquanto um bloco de pagode passava, vimos vários princípios de briga. ainda bem que, segundo um folião que estava ao meu lado, tinha "mais policial do que folião" na avenida. Eu acho que já disse isso aqui, mas não custa repetir: QUEM USA CYCLONE É MALOQUEIRO. Assim, não só Cyclone, como aqueles que andam de Adidas DOS PÉS À CABEÇA. Eu passo longe. E se vier alguém dizer que eu sou preconceituoso, eu vou mandar tomar no c*, porque não viu o que eu vi na avenida (e no shopping Iguatemi, que não vem ao caso agora). Por isso eu quero distância desse povo, e depois vem dizer que Cyclone não é marca de ladrão...



Todo mundo mija na rua no carnaval inclusive eu. mas por causa disso, eu, com meu Asics novo (Raquel sabe meu amor com meu tênis Asics), pisei numa poça de mijo na rua. O tênis tá num estado de miséria. QUE ÓDIO DA DESGRAÇA, NUNCA MAIS MIJO NA RUA mentira. Enfim.

Por falar em sujeira, fui inventar em pegar um espetinho de gato. Tudo bem, até que eu inventei de pedir uma lata de refrigerante. Só depois que eu abri a lata e tomei aquele gole enorme que eu fui perceber que tinha uma coisa estranha provavelmente cocô de rato na parte de cima da lata. Eu pensei em cuspir, mas no meio da multidão eu ia arranjar uma briga ( e eu sou pequeno, ia me fuder dar mal fácil). Então eu pensei: "já bebi essa porra mesmo, se eu morrer, eu morro, e pronto. Já sou hipertenso mesmo..." e terminei de beber. mas o pior é que minha mãe bebeu comigo... #IhFudeu

Finalmente chegamos ao Campo Grande. Eu me pergunto: PRA QUE PORRA TEM UM PORTÃO NA SAÍDA DO CAMPO GRANDE? Não acreditam? É sério! Só abrem na hora que o trio vai sair. Enfim. já eram 3:30 da manhã, e eu já tinha esquecido de Pablo... Ei, espera aí! Lá vem o trio de Pablo! OH MEU DEUS! Eu fiquei em estado de choque quando minha mãe falou... Ah, foi lindo! Ele cantou "Casa ao Lado", "Vou te amar", "Pássaro de fogo", e lembrou uma clássica do arrocha: "Tudo azul". Quem tava aqui em Salvador em 2006 com certeza se lembra dessa: "Tudo azul, lindo como a cor do mar, doce como o mel da flor, foi tão bom te encontrar!"
Eu nem consegui dançar direito tamanha minha emoção na hora. Depois de Pablo, vieram mais dois trios, sendo que um veio jogando papel picado numa espécie de final apoteótico (foi lindo) e acabou o desfile.

Mas não acabou minha noite. Ainda tinha que pegar o ônibus pra voltar pra casa. E agora, outro mote pro #BuzuFacts: quando alguém obeso senta ao teu lado. Pense aí: eu, esta criatura magricela, sentado à janela. Senta do meu lado uma mulher que mais parecia um mamute. Até aí, normal. O barril foi quando ela resolveu chamar a sobrinha dela (ou filha, whatever) pra sentar junto com a gente.

- Coisinho, você pode se apertar um pouquinho pra lá pra *** (nome da criatura) sentar aqui também? - o foda foi ela ter me chamado de coisinho...
- Tudo bem, minha tia... - eu tava tão cansado que não tava mais ligando pra nada...
- Você não tá muito apertado aí não, né coisinho? - porra, me bate mas não me chama de coisinho!
- Não, minha tia, tá de boa...

E não é que a favela voltou junto comigo no ônibus? Ainda cantei junto com o povo canções singelas como: "Pára de ligar, isso me irrita, quer me rastrear? Bota um chip na minha pica fita", com variações inocentes como: "pára de ligar, isso me incomoda, quer me rastrear? Bota um chip na minha xota". É... Pagode é mesmo uma coisa linda...

Enfim, encerro aqui este post. Na parte dois vou contar como foi minha experiência no Pelourinho com a Pitu-Cola e as gringas (mwahahaha!!!)

See ya!

Clayton Araujo - O Mendigo Virtual



Comentários

  1. Ri muito com "As aventuras do Mendigo Virtual no Mundo do Carnaval"... Ri TEP's

    Sério mesmo, você deveria pensar na carreira de comediante. Aliás, já percebeu quem quem comenta nas minhas postagens é vc e quem comenta nas suas postagens sou eu? Isso não significa que ngm mais comenta, mas a gente é leitor fiel um do outro...

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  2. Claro, eu aprecio seus textos. E eu não levo talento pra comediante, eu levo talento pra me lenhar na vida real.

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  3. Assim, tbm sou leitora fiel, mas tenho preguiça de comentar. Beijos

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