Ensaio sobre a reprovação e a morte
Olá.
Não sei se vocês já passaram pela experiência de serem reprovados no colégio. Mas eu já passei. Duas vezes. E não é nem um pouco bom.
A primeira vez que eu fui reprovado, eu cursava o primeiro ano do ensino médio, no IFBA. Eu não senti o que aquilo significava de verdade, era muito novo ainda. Mas foi muito ruim ver meus pais decepcionados. Eles não me bateram, não brigaram comigo. Mas dava pra ver a decepção no rosto deles.
A segunda vez que eu fui reprovado, foi ano passado. Eu estava no terceiro ano. Cara, eu brinquei muito, mas sinceramente, acredito que não era pra eu ter perdido de ano. Desta vez doeu mais ainda. Eu, maior de idade já, repetindo pela segunda vez. Decepção pra meus pais,complexo de Dantas raiva de mim mesmo. Pela segunda vez, eu vi meus amigos todos sendo aprovados, e eu ficando pra trás. Mas deixa eu explicar por que doeu mais desta vez, o que, por tabela, também vai explicar o título do post.
Em 2010, eu cheguei ao terceiro ano. Feliz pra caralho, pensando "falta só mais um ano e acabou!". Isso foi até os professores de História e Matemática (Uzêda e Nelson, respectivamente) foderem com minhas expectativas. Agora é que vocês vão entender o título do post.
Quando você vai perder de ano, você passa pelos mesmos estágios básicos de quem está enfrentando uma doença terminal.
PRIMEIRO ESTÁGIO: SINTOMAS
Geralmente, os primeiros sintomas de uma doença terminal são silenciosos. Os primeiros sintomas de uma reprovação também.
Você começa a filar uma aula desinteressante aqui, sair da sala numa distração do professor ali. E nisso, você vai aumentando seu número de faltas. Você não dá a mínima atenção a isso, assim como ninguém liga pra uma dorzinha que aparece ocasionalmente, mas que esconde uma enfermidade terrível.
Os sintomas vão crescendo, e daqui a pouco você zera sua primeira prova. É como ter que ir ao médico pela primeira vez, ouvir dele que você precisa se tratar, e o conselho entra por uma orelha e sai pela outra. E nisso você vai primeira, segunda unidades. Na terceira, você para e pensa: "Será que ainda dá pra passar?" Você tem a resposta negativa em sua cara, mas mesmo assim você não enxerga. É como se o médico te dissesse: "acabou, não tem mais jeito, seu estado é crítico". Daí, você entra no próximo estágio:
SEGUNDO ESTÁGIO: NEGAÇÃO
Assim como quando alguém recebe a notícia de que tem apenas certo tempo de vida, quem sabe que vai perder de ano nega enquanto pode. Como se faz isso? Bem, você começa a apelar pros recursos que você tem ao seu alcance. Se, numa doença grave, você recorre a tratamentos alternativos, revolucionários ou à ajuda espiritual, na escola você recorre a pescas (nome "baiano" pra cola) nas provas, corre atrás de professores pra pedir nota (eu fiz muito isso, consegui algumas vezes) e até recorre à ajuda espiritual. Enfim, alguém chega pra você e pergunta: "E aí, vai passar?" e você, com a maior cara-de-pau, responde algo do tipo: "Tô quase lá!". Diga aí se não é verdade? Mas o tempo vai passando e, relutantemente, você se dá conta de que não tem mais jeito. Aí, você entra no terceiro estágio:
TERCEIRO ESTÁGIO: ACEITAÇÃO
Quando, finalmente, você se dá conta de que vai mesmo perder de ano, você toma um choque. Você já sabia que ia perder, mas aceitar isso é a parte mais difícil. Você vai ter de achar um meio de contar a seus pais essa notícia. Tem que ser aos poucos, não pode ser repentino. Da mesma forma que seria se você tivesse que contar aos seus familiares que você tem pouco tempo de vida. Se é difícil pra você, imagine pras pessoas que gostam de você?
Você tenta acertar as coisas, parar de faltar, estende ao máximo suas esperanças. Mesmo que você não vá passar, você pelo menos já garante conhecimento pro ano seguinte. É como se você organizasse sua vida pra não deixar nada mal-resolvido quando partir.
É quando, do nada, aparece o quarto estágio:
QUARTO ESTÁGIO: MELHORA REPENTINA
Todo paciente terminal tem uma melhora repentina antes de morrer de vez. Todo estudante prestes a perder de ano tem um "Deus Ex Machina"* que o faz achar, de uma hora pra outra, que ele pode, milagrosamente, passar de ano. No meu caso, essa intervenção divina se chamava "conselho de classe". Mas aí, realmente não dá certo. E você morre. Ou perde de ano, no caso.
ÚLTIMO ESTÁGIO: O FIM (E ALÉM DELE)
Pronto, você perdeu de ano. Fato consumado. Ao contrário da morte (exceto se você for Jesus Cristo) você ainda tem outra chance. Pode começar de novo. Fazer melhor. É como uma reencarnação. Você vai ter que passar por tudo de novo, com a vantagem de que já viu tudo isso antes, e tendo a chance de não fazer merda de novo.
Sim, isso tudo dói. Dói mais ainda quando você olha pra trás e percebe que poderia ter feito diferente. Mas, como diz o ditado, "se arrependimento matasse"...
Bem, com isso encerro meu post de hoje. Espero, sinceramente, que vocês não passem pelo que eu passei. Duas vezes.
Clayton Araújo - O Mendigo Virtual.
Não sei se vocês já passaram pela experiência de serem reprovados no colégio. Mas eu já passei. Duas vezes. E não é nem um pouco bom.
A primeira vez que eu fui reprovado, eu cursava o primeiro ano do ensino médio, no IFBA. Eu não senti o que aquilo significava de verdade, era muito novo ainda. Mas foi muito ruim ver meus pais decepcionados. Eles não me bateram, não brigaram comigo. Mas dava pra ver a decepção no rosto deles.
A segunda vez que eu fui reprovado, foi ano passado. Eu estava no terceiro ano. Cara, eu brinquei muito, mas sinceramente, acredito que não era pra eu ter perdido de ano. Desta vez doeu mais ainda. Eu, maior de idade já, repetindo pela segunda vez. Decepção pra meus pais,
Em 2010, eu cheguei ao terceiro ano. Feliz pra caralho, pensando "falta só mais um ano e acabou!". Isso foi até os professores de História e Matemática (Uzêda e Nelson, respectivamente) foderem com minhas expectativas. Agora é que vocês vão entender o título do post.
Quando você vai perder de ano, você passa pelos mesmos estágios básicos de quem está enfrentando uma doença terminal.
PRIMEIRO ESTÁGIO: SINTOMAS
Geralmente, os primeiros sintomas de uma doença terminal são silenciosos. Os primeiros sintomas de uma reprovação também.
Você começa a filar uma aula desinteressante aqui, sair da sala numa distração do professor ali. E nisso, você vai aumentando seu número de faltas. Você não dá a mínima atenção a isso, assim como ninguém liga pra uma dorzinha que aparece ocasionalmente, mas que esconde uma enfermidade terrível.
Os sintomas vão crescendo, e daqui a pouco você zera sua primeira prova. É como ter que ir ao médico pela primeira vez, ouvir dele que você precisa se tratar, e o conselho entra por uma orelha e sai pela outra. E nisso você vai primeira, segunda unidades. Na terceira, você para e pensa: "Será que ainda dá pra passar?" Você tem a resposta negativa em sua cara, mas mesmo assim você não enxerga. É como se o médico te dissesse: "acabou, não tem mais jeito, seu estado é crítico". Daí, você entra no próximo estágio:
SEGUNDO ESTÁGIO: NEGAÇÃO
Assim como quando alguém recebe a notícia de que tem apenas certo tempo de vida, quem sabe que vai perder de ano nega enquanto pode. Como se faz isso? Bem, você começa a apelar pros recursos que você tem ao seu alcance. Se, numa doença grave, você recorre a tratamentos alternativos, revolucionários ou à ajuda espiritual, na escola você recorre a pescas (nome "baiano" pra cola) nas provas, corre atrás de professores pra pedir nota (eu fiz muito isso, consegui algumas vezes) e até recorre à ajuda espiritual. Enfim, alguém chega pra você e pergunta: "E aí, vai passar?" e você, com a maior cara-de-pau, responde algo do tipo: "Tô quase lá!". Diga aí se não é verdade? Mas o tempo vai passando e, relutantemente, você se dá conta de que não tem mais jeito. Aí, você entra no terceiro estágio:
TERCEIRO ESTÁGIO: ACEITAÇÃO
Quando, finalmente, você se dá conta de que vai mesmo perder de ano, você toma um choque. Você já sabia que ia perder, mas aceitar isso é a parte mais difícil. Você vai ter de achar um meio de contar a seus pais essa notícia. Tem que ser aos poucos, não pode ser repentino. Da mesma forma que seria se você tivesse que contar aos seus familiares que você tem pouco tempo de vida. Se é difícil pra você, imagine pras pessoas que gostam de você?
Você tenta acertar as coisas, parar de faltar, estende ao máximo suas esperanças. Mesmo que você não vá passar, você pelo menos já garante conhecimento pro ano seguinte. É como se você organizasse sua vida pra não deixar nada mal-resolvido quando partir.
É quando, do nada, aparece o quarto estágio:
QUARTO ESTÁGIO: MELHORA REPENTINA
Todo paciente terminal tem uma melhora repentina antes de morrer de vez. Todo estudante prestes a perder de ano tem um "Deus Ex Machina"* que o faz achar, de uma hora pra outra, que ele pode, milagrosamente, passar de ano. No meu caso, essa intervenção divina se chamava "conselho de classe". Mas aí, realmente não dá certo. E você morre. Ou perde de ano, no caso.
ÚLTIMO ESTÁGIO: O FIM (E ALÉM DELE)
Pronto, você perdeu de ano. Fato consumado. Ao contrário da morte (exceto se você for Jesus Cristo) você ainda tem outra chance. Pode começar de novo. Fazer melhor. É como uma reencarnação. Você vai ter que passar por tudo de novo, com a vantagem de que já viu tudo isso antes, e tendo a chance de não fazer merda de novo.
Sim, isso tudo dói. Dói mais ainda quando você olha pra trás e percebe que poderia ter feito diferente. Mas, como diz o ditado, "se arrependimento matasse"...
Bem, com isso encerro meu post de hoje. Espero, sinceramente, que vocês não passem pelo que eu passei. Duas vezes.
Clayton Araújo - O Mendigo Virtual.
Velho, me identifiquei pra caramba. Tô quase escrevendo um post sobre perder, passar e mudar de curso - e ver as pessoas fazendo piadinhas sobre isso. Vc é gênio. Eu tbm já morri (nesse sentido). Mas eu sou fênix! Renasci das cinzas (e me matei), kkkkkkkk!!!
ResponderExcluirRach, obrigado pelo comentário e pelo elogio. Não sou gênio, não... Sim, somos fênices! E eu tava pra fazer esse post desde o ano passado. Enfim, ainda falaremos disso.
ResponderExcluirAcho que quase todo mundo já passou por isso...
ResponderExcluirPelo menos vc não vai ter que recomeçar em outra instituição.
beijoos