O clarinetista
De manhã, tenho o costume de acordar cedo para estudar ainda que tenha dormido muito tarde no dia anterior. Não sei o que teve de especial o dia de hoje. Além do fato de que eu fui domir meia-noite e meia e acordei às oito para estudar física, nada. Respondi algumas questões e quando resolvi passar para matemática, ouvi o som mais estranho que podia ouvir na minha rua.
Quando se está acostumado a ouvir gente idosa gritando no asilo atrás de casa, crianças chorando na escolinha ao lado, música gospel na igreja à frente e pagode na casa da vizinha, você nunca espera que alguém, além de você e sua família, ouça boa música.
Eu nem consegui mais me concentrar no rebanho de números que pulava no papel à minha frente. Ainda estava de roupa de dormir, mas abri a janela da frente da casa pra tentar descobrir de onde vinha o som. P.A? P.G? Quem? Eu não estava dando importância à matemática gritando.
Era um solo de clarineta. Ainda sem definição, mas clarineta com certeza. E não podia ser um cd, tinha interrupções demais. Era bonito. Me encostei mais na janela, pra ver se descobria de onde vinha o som.
Quem poderia estar tocando isso? Uma garota solitária presa no quarto? Uma espécie de Lisa Simpson? Um rapaz pobre que está tentando seguir uma carreira artística pela veia mais difícil? Alguém que faz parte da orquestra sinfônica? Um idoso lembrando dos velhos tempos? Uma criança que descobriu um instrumento do pai?
Na minha mente começou a se formar a imagem de um clarinetista concentrado, com partituras à frente, tentando traduzir da melhor maneira as notas. Sentado na sala, de olhos fechados, com as portas abertas, deixava o vento passear pela casa, enquanto permitia que as notas fluíssem por ele. Talvez compondo.
Pareceu que todos os vizinhos se uniram num complô pra que eu não ouvisse mais o som leve do instrumento. Uma vizinha começou a conversar alto, a outra ligou o rádio. E quanto mais eu tentava ouvir a clarineta, mais o rádio sintonizava minha cabeça.
Num rompante, levantei do sofá, abri a porta, e sai de roupa de dormir mesmo, perguntando em voz alta quem estava tocando. Sei que parece loucura, mas eu só queria desvendar aquele talento.
Não, eu queria mesmo ter feito isso. Pelo menos ter coragem pra fazer. Ainda não sei quem estava tocando, mas não me contentei em só ouvir. Abandonei os cadernos e liguei o computador pra compartilhar minha experiência inusitada com vocês. Mas ainda tenho tempo de procurar o tal clarinetista.
Enquanto escrevo, ainda ouço a música. Não, não são coisas da minha imaginação, ela está mesmo aí na rua. Já voltei à janela para conferir. Ele ainda está tocando. E as notas vão brincandos, pulando as escalas, felizes, como criancinhas num parque. Por quanto tempo será que ele ainda vai tocar?
Quando se está acostumado a ouvir gente idosa gritando no asilo atrás de casa, crianças chorando na escolinha ao lado, música gospel na igreja à frente e pagode na casa da vizinha, você nunca espera que alguém, além de você e sua família, ouça boa música.
Eu nem consegui mais me concentrar no rebanho de números que pulava no papel à minha frente. Ainda estava de roupa de dormir, mas abri a janela da frente da casa pra tentar descobrir de onde vinha o som. P.A? P.G? Quem? Eu não estava dando importância à matemática gritando.
Era um solo de clarineta. Ainda sem definição, mas clarineta com certeza. E não podia ser um cd, tinha interrupções demais. Era bonito. Me encostei mais na janela, pra ver se descobria de onde vinha o som.
Quem poderia estar tocando isso? Uma garota solitária presa no quarto? Uma espécie de Lisa Simpson? Um rapaz pobre que está tentando seguir uma carreira artística pela veia mais difícil? Alguém que faz parte da orquestra sinfônica? Um idoso lembrando dos velhos tempos? Uma criança que descobriu um instrumento do pai?
Na minha mente começou a se formar a imagem de um clarinetista concentrado, com partituras à frente, tentando traduzir da melhor maneira as notas. Sentado na sala, de olhos fechados, com as portas abertas, deixava o vento passear pela casa, enquanto permitia que as notas fluíssem por ele. Talvez compondo.
Pareceu que todos os vizinhos se uniram num complô pra que eu não ouvisse mais o som leve do instrumento. Uma vizinha começou a conversar alto, a outra ligou o rádio. E quanto mais eu tentava ouvir a clarineta, mais o rádio sintonizava minha cabeça.
Num rompante, levantei do sofá, abri a porta, e sai de roupa de dormir mesmo, perguntando em voz alta quem estava tocando. Sei que parece loucura, mas eu só queria desvendar aquele talento.
Não, eu queria mesmo ter feito isso. Pelo menos ter coragem pra fazer. Ainda não sei quem estava tocando, mas não me contentei em só ouvir. Abandonei os cadernos e liguei o computador pra compartilhar minha experiência inusitada com vocês. Mas ainda tenho tempo de procurar o tal clarinetista.
Enquanto escrevo, ainda ouço a música. Não, não são coisas da minha imaginação, ela está mesmo aí na rua. Já voltei à janela para conferir. Ele ainda está tocando. E as notas vão brincandos, pulando as escalas, felizes, como criancinhas num parque. Por quanto tempo será que ele ainda vai tocar?
Só não entendi uma coisa... Quem toca clarineta é o Lula Molusco, não a Lisa Simpson!
ResponderExcluirEu sei, mas Lisa é uma excluída que toca saxofone e ngm dá atenção. Não tente roubar a piadinha de Raphael, tá?
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