#BuzuFacts

O blog é o espaço onde a pessoa fala do seu cotidiano. Como eu sou pobre, meu cotidiano é ônibus. E é sobre isso que eu vou falar.

Ouvindo Beyoncé no celular e presa num engarrafamento dos infernos, cheguei à conclusão de que, cada dia que passa, odeio mais e mais a necessidade de Estações de Transbordo.

Acredito que a ideia da estação de trasnbordo é facilitar a vida dos usuários de ônibus, proporcionando um acesso rápido e alternativo à bairros que não têm ligação direta. Porém, Salvador não conhece essa "realidade". E como meu ambiente é Salvador e eu não conheço outras capitais, vou falar mal desse problema que se tornou a busca pela solução ou não.

Salvador conta com 4 estações de transbordo: Estação Pirajá, Estação da Lapa, Estação Iguatemi e Estação Mussurunga. Duas dessas não cobram o segundo transporte (a Pirajá e a Mussurunga), porque de lá dificilmente você pode ir andando para algum lugar realmente importante. E a casa do Satanás fica instalada na pior delas é a Estação Pirajá, que funciona pelo mesmo período que os ônibus rodam, acho que de 4 da manhã até meia-noite. Vamos caracterizar cada uma delas.




Estação Pirajá



No letreiro digital que fica passando mensagens como "Bom dia!" e "Mantenha a cidade limpa", deveria ter escrito "BEM VINDOS AO INFERNO!", em letras garrafais. A Estação Pirajá fica no meio da BR 324, pelo menos em relação à Salvador. É cercada pelos barrius bairros de Pirajá não diga, São Caetano e Sto Inácio, contando com mais ou menos 25 linhas de ônibus que vão de uma ponta a outra da cidade, como do Bonfim à Palestina, ou da Barra à Boca da Mata. Tem também ônibus que levam às outras estações de transbordo (vulgo, sub-infernos). É recheada de gente pobre e feia (não me excluo disso), vendedores de pipoca, mendigos, cachorros, ladrões, tios do picolé, tias da bala e os assistentes do Diabo, ou despachantes.

O melhor de tudo é que fica cheia em qualquer horário e, enquanto certos ônibus passam a cada cinco minutos, outros demoram uma vida pra passar (Vide "Boca da Mata" e "Cajazeira X"). Além disso, a estação fica engarrafada nos dias de jogo, tanto do Bahia como do Vitória, e quando chove se torna um ambiente intransponível. Passar cinco anos enfrentando esses transtornos é um trauma que eu NUNCA vou esquecer...


Estação da Lapa


Ok, vocês estão vendo essa foto bonitinha e consoladora, não é? Parece até que a Lapa nem é tão terrível assim. Mas, pra quem não conhece, existe o submundo da Lapa: o subsolo.


Saibam, pessoalmente é muito mais assustador do que isso. Principalmente porque quando os ônibus passam em cima, a impressão que dá é que essa desgraça vai desmoronar a qualquer momento. Além disso, por uma época (não sei se até agora) colocaram umas luzes amarelas deprimentes. Se lá já é escuro, feio, sujo, nojento, podre, asqueroso e cheio de ladrão, só descer as escadas da Lapa já era um suplício.

Eu odeio a Lapa. Com a mesma força que meu sangue faz pra sair do dedo mínimo do pé e chegar ao vaso mais alto da minha cabeça. É o pior lugar de Salvador. Tem ligações diretas com a praça da Piedade, a Joana Angélica e mais um monte de lugares com casas velhas, camelôs, ladrões, ladrões e mais ladrões. Toda vez que eu penso na Lapa eu penso em assalto. E ainda tem dois shoppings, o Piedade e o Lapa (shoppings de pobre) e um posto do Salvador Card, que dá um tom mais caótico ao lugar quando é dia de recarga.

Estação Iguatemi

A estação Iguatemi parece um pouco menos terrível. Mas é ilusão, Nunca tente passar por lá no Natal. NUNCA. Além da passarela que liga o shopping à estação homônima, que chega a suportar cargas impossíveis (sério mesmo, como estudante de edificações, não entendo como aquele treco nunca caiu...) e já balançou algumas vezes, ela pode chegar a ter 10 pessoas por metro quadrado em ocasiões festivas. E a cada 10 pessoas, 2 são ladrões. Cuidado com os presentes. Ou com seu celular. Ou seu salário.


Estação Mussurunga




A Estação Mussurunga é a mais nova dessas estações de trasnbordo. Está bem conservada, mas os ônibus demoram pra chegar e fica tão longe, tão longe, e é tão contra-mão que eu quase nunca vou lá. Na verdade, só quem vai lá é quem vai pra o lado de lá da paralela (vulgo, depois da estação, em direção à Lauro de Freitas) ou quem já mora lá perto mesmo. E fica master lotada no horário de pico. E tem poucos ônibus em relação a todas as outras. E fica um inferno na época do Festival de Verão. Bota inferno nisso.

Uma coisa é certa: todas as estações de transbordo de Salvador permitem ao usuário de ônibus uma viagem tranquila e sossegada, em pé, ocupando o gisgantesco espaço de 1cm², com gente passando bolsa e sovaco na sua cara e aquela galera que já gosta de bater um papo, fazer uma bagunça ou produzir um som no fundo do buzú. Vida de pobre, né? Fazer o que, comprar um carro? Da maneira que Salvador foi urbanizada, nem sei se ainda vale a pena...